terça-feira, 7 de julho de 2009

ENCÔMIO

Ontem de manhã, segui com a divulgação do blog. Tenho procurado a relação de órgãos de comunicação de cada estado da federação - um a um, sem esquecer o menor jornal - e enviado a mensagem-padrão pedindo auxílio na divulgação do blog e do canal no You Tube. Trabalho lento e algo custoso para quem precisa literalmente enfiar a cara na tela do computador para achar endereços, copiá-los, preencher formulários.

Quando faço isso, geralmente fecho todas as demais janelas do Windows para evitar distrações. A manhã de ontem foi dedicada a enviar emails aos órgãos de comunicação maranhenses. Ao concluir a tarefa, notei que havia email do professor José Carlos Sebe em minha caixinha. Até aí nada demais. Trocamos emails diariamente há dez anos, desde que nos conhecemos.

Entretanto, devo confessar que fui surpreendido pela bela e comovente mensagem de ontem. O amigo Zeca escrevera um texto de apoio ao blog e à causa albina. Do fundo do coração. Vocês perceberão ao lê-lo abaixo.

Que mais posso dizer a não ser MUITÍSSIMO OBRIGADO, ZECA? Empenhadíssimo em me auxiliar na divulgação do projeto, as palavras espontâneas do professor tocaram fundo e me motivam ainda mais em persistir no projeto. Ele sabe que sou fã número um dele e do seu mportante trabalho com imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, sobre índios,AIDS, recuperação de narco-adictos, prostitutas e tantos outros temas.

BRANCO DE ALMA ALBINA.

José Carlos Sebe Bom Meihy.

Decreto que assumi ser albino de alma. Explico-me: porque nasci com pigmentação regular, meus cabelos são brancos pela idade, e, ainda que padeça problemas de visão, os motivos são alheios à composição genética. Não suporto sol, sempre tenho dificuldades em achar meu lugar em transportes públicos, mas se isso é coisa de distraído me aproxima da construção da afinidade albina que a cada dia ganha mais sentido em minha experiência pessoal.

Num flash back, me lembro de três experiências marcantes com albinos. A primeira recua-se no tempo e leva à infância onde no Grupo Escolar dr. Lopes Chaves, em Taubaté, SP. tinha um amiguinho conhecido por “Nando Sarará”. Sabia que ele era “diferente”, mas aquele diverso para mim era importante porque retraçamos um daqueles pactos que se fazem na pureza da infância, o sublime acordo de “melhores amigos”. E como era bom saber que tinha alguém tão companheiro. Olhando de hoje, me pergunto onde andará aquele colega que me fazia importante porque, mesmo sendo eu fraquinho, sentia-me gigante para protegê-lo.

Mais tarde, já mocinho, em viagem aos Estados Unidos onde havia ido para um programa de estudos de três meses, ao fim da experiência fomos levados a assistir a um show de uma cantora africana. Dela diziam maravilhas, inclusive porque era politizada, rebelde, amiga de Mandela. Também conhecida por uma canção excitante que rodou o mundo, “Pata pata”, Mirian Makeba se fazia acompanhar de um brasileiro, Sivuca. O fato da combinação de uma negra com um albino seria apenas exótica não fosse ela uma das primeiras ativistas do antiapartheid da África do Sul, seu país de origem. Radical, casou-se pois comm Stokely Carmichel – o porta voz dos Black Panters e líder do Black Power. Pois bem, acabado aquele show, nos idos de 1969, depois de eu ter morado em Savannah, Ga. cenário fundamental da luta dos negros pelos direitos humanos, restava conversar com Sivuca. Foi um momento privilegiado de minha história pessoal. Sivuca brincou muito com o fato de ser albino e liderar um grupo africano, e um tanto magoado, revelou que sua sanfona fazia mais sucesso fora do Brasil. Foi assim que decretou uma frase que sempre me vem à mente: lá sou apenas um albino que toca sanfona, aqui sou músico. E desde aquele então acompanhei o mais perto que pude a vida do incrível paraibano.

Demorou até que conhecesse outro albino. Roberto Rillo Biscaro me contatou pela internet há cerca de dez anos. Teclamos um pouco e nos encontramos pela primeira vez numa livraria, na USP. Desde então nos desafiamos em trocas de identidades e principalmente de perspectivas diversas. Mais que tudo, nele, me chamava atenção a vontade de saber sobre várias coisas e em profundidade. No correr do tempo tivemos que acertar múltiplas contas e nos perguntar na intimidade dos que se conhecem: quem somos. De geração diferente, de áreas de conhecimento diversas, sobretudo dada a originalidade de seu gosto musical e cinematográfico, destilamos vários temas. A mesma internet que nos ligou permaneceu como veículo que até hoje nos une diariamente. Diria que foi pelo Roberto que converti minha alma em albina. Sim, virei um branco de alma alvíssima. Brigamos tanto, nos digladiamos de tal maneira que seria impossível sair do mesmo jeito que entramos. E o grande milagre se deu pela chave que lhe abriu a porta de uma causa. Se antes disperso, plural, o moço depois de inúmeras tentativas achou o seu caminho: ativista de uma causa que lhe é fator identitário. E, como seria de se esperar, entrou de corpo e alma na campanha. E arrastou-me com ele. Desde o momento em que comunicou que estaria disposto à luta, arrebanhou parceiros, fabricou listas de meios de divulgação e hoje o temos militante. Daí a minha conversão. Dando um balanço em meus projetos pessoais, não tenho mais como não qualificar a luta albina como uma dos minhas preferidas e se alguém quiser detalhes que veja o
Blog do Albino Incoerente.

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