sábado, 18 de julho de 2009

ALBINISMO SOB O SOL

Já localizei a matéria sobre mim e o blog, publicada na Folha de São Paulo do úlimo domingo, em um par de sites. Sendo assim, creio que é chegada a hora de publicá-la aquui também. A parte que fala sobre o trabalho e as conquistas da APALBA será publicada amanhã para ter mais destaque no post.

Albinismo sob o sol
No blog "O Albino Incoerente", o professor de inglês e literatura Roberto Bíscaro, 42, reúne informações sobre a condição genética no Brasil e no mundo na tentativa de combater o preconceito
DENISE MOTA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cercado por uma vegetação exuberante, óculos escuros, mãos nos bolsos, "Dr. Albee" encara, entre altivo e relaxado, o visitante de "O Albino Incoerente" (
albinoincoerente.blogspot.com), blog que criou para dar visibilidade aos albinos no Brasil e no mundo.
Na foto, o professor de inglês e literatura não se furta ao sol de Penápolis (491 km da capital paulista), onde mora. Fora do mundo virtual, a busca pela superação de desafios também não cessa: aos 42 anos, o paulistano Roberto Bíscaro se dedica -entre as aulas na Faculdade de Filosofia de Penápolis e as viagens ao exterior que são um de seus hobbies- a alimentar o que espera ser um dia "a maior central mundial de informações on-line sobre albinismo".
Nem sempre foi assim. Na infância, o assunto era cercado de silêncio, e os poucos comentários que se faziam era que um irmão mais velho de Roberto, morto quando ele era bebê, havia sido "igualzinho" a ele. Hoje o albinismo já faz parte das conversas do professor com a família, formada por dois irmãos mais velhos e pela mãe de 78 anos, com quem mora.
Filho de um alfaiate e de uma empregada doméstica, Roberto "tinha tudo para dar errado", como diz. "Comecei a me dar conta de que era diferente porque via as crianças: elas eram "coloridas", e eu não." Os apelidos na escola, como Branca de Neve, reforçaram a consciência da diferença.O estratagema para superar a discriminação foi compensar os conflitos de autoestima e ser "atirado". "Eu fazia teatro, era o inteligentinho da sala."
Popstar
Foram necessárias três décadas para que ele se conscientizasse da necessidade de se cuidar adequadamente -o uso de protetor solar e óculos que protegem seus quatro graus de miopia, imprescindíveis em qualquer hora do dia e condição climática, tornou-se sagrado apenas após os 30 anos."
Teve um período em que eu queria negar que era albino. Mas, quando eu vi que o mundo tinha espaço para eu fazer coisas, percebi que não precisava estar revoltado o tempo todo, e passei a ser mais pró-ativo." Ato seguido, a partir da suspeita de que sua situação social confortável fosse uma exceção entre os albinos, decidiu "arregaçar as mangas" para que o assunto saísse das sombras.
A percepção de Roberto é corroborada por Lília de Azevedo Moreira, professora titular do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia e coordenadora do programa Genética em Articulação com a Sociedade, da universidade.
Em estudo realizado em 2007 junto à Apalba (Associação das Pessoas com Albinismo na Bahia), verificou-se entre a comunidade albina do Estado uma maior proporção de pessoas vivendo em bairros periféricos, com grande demanda de serviços sociais e de saúde. "O baixo nível de escolarização foi associado não apenas à pobreza mas também à falta de apoio diante das dificuldades de visão no período inicial de escolaridade", diz a pesquisadora.
Doutor em dramaturgia norte-americana pela Universidade de São Paulo, Roberto diz nunca haver tido problemas em sua profissão por conta do albinismo e considera positivo o fato de, na vida privada, não ser encarado pelos amigos como alguém que deva ser tratado "cheio de dedos".
Apesar de não prestar mais atenção no que lhe dizem na rua -o MP3 é companhia a cada saída-, não deixa de notar os olhares de surpresa que continua a atrair. "Sou como um popstar sem dinheiro", brinca.
Pelo que pesquisa e recebe de mensagens em seu blog, Roberto afirma que a maior demanda da comunidade albina é que se desenvolvam políticas de saúde pública direcionadas aos albinos e que a sociedade tenha mais informações sobre o albinismo, a fim de que se diminua o preconceito.
"Existe um levantamento sobre a aparição de albinos em filmes, e quase sempre eles estão relacionados a personagens maus, existe até albino atirador de elite. Como assim? A gente não enxerga nada, como vai ser atirador de elite?", pergunta, entre divertido e indignado.
Ler, reler e assistir a várias versões de clássicos como "Orgulho e Preconceito", romance da britânica Jane Austen, são algumas das atividades preferidas do professor, mas ele não vê problemas em se dedicar com o mesmo interesse aos últimos lançamentos de rap americano, por exemplo, do qual é fã.
Daí batizar seu blog de "O Albino Incoerente". "Existe a ideia de que doutores gostem apenas do suprassumo da cultura. Acho isso um porre. E também mudo de opinião rápido. Um ou dois dias antes de criar a página, disse a um amigo que nunca teria um blog", ri.
Táticas de sobrevivência
No blog, a prosa fluida e bem-humorada de Roberto aborda notícias vinculadas a casos de violência contra albinos pelo mundo e a direitos e problemas de pessoas portadoras de deficiência. Também se encontram fotos de animais albinos e uma miríade de referências culturais à existência de albinos desde que o mundo é mundo -Noé, por exemplo, teria sido um deles. "Mostro que é possível ser saudável, fazer coisas, ter uma vida interessante", diz.
Em posts mais pessoais, o professor, que produziu ainda uma série de vídeos, postados no Youtube, sobre sua condição genética, comenta surpresas advindas de suas andanças pelo mundo -as letras garrafais dos ônibus de Buenos Aires o fascinam- e compõe um manual de "táticas de sobrevivência" que se renovam a cada dia.
"Se eu marco encontro com alguém, tento sempre chegar primeiro", ensina. "Assim, como não enxergo bem, a pessoa que chega depois é que tem que me procurar, e eu não preciso ficar tentando encontrá-la".
Frases

"Comecei a me dar conta de que era diferente porque via as crianças: elas eram "coloridas", e eu não"ROBERTO BÍSCARO
"Teve um período em que eu queria negar que era albino. Mas, quando eu vi que o mundo tinha espaço para eu fazer coisas, percebi que não precisava estar revoltado o tempo todo, e passei a ser mais pró-ativo"IDEM
"Sou como um popstar sem dinheiro"IDEM

22 comentários:

  1. eu digo sempre que quem quer mudar o mundo eh so começar respeitando o proximo e reciclando o lixo, nem precisa trabalhar na ONU.
    Voce se da conta como com um blog e com o teu trabalho de formiguinha conseguiu em tao pouco tempo colocar o albinismo em evidencia no Brasil? Tiro o chapeu e me sinto muito orgulhosa de ser uma de tuas leitoras. Bom fim de semana e abraços

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  2. poxa vida roberto, parabens mesmo....to muito feliz por ler isso, mas não surpresa, pois sei da sua capacidade em superar sempre, tiver algumas aulas com vc e sei o quão inteligente é!!parabéns!!e que o mundo o descubra
    Kátia

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  3. samya,
    obrigado pelas palavras de incentivo e admiração. Aos poucos tô fazendo o que posso aqui e vou fazer muito mais ainda, você vai ver. Continue ligada!!

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  4. Kátia,
    muito obrigado pelo apoio. Espero que o mundo descubra mesmo, não tanto por mim, mas mais pela causa dos albinos. Espero que voce volte em agosto pra termos mais aulas!

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  5. Estou te vendo neste momento em entrevista no Sem Censura da Leda. Parabéns pelo blog. Merece o destaque. Muito bem escrito e com informações bem importantes.

    Um abraço,
    Talita.

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  6. Querido Roberto ....
    Tenho um filho de 1 ano e 1 mês, qdo ele tinha 5 meses o levei no Oftamologista pois ele tinha um leve tremor nos olhos, dai diagnosticaram como Nistagmo e suspeitaram de Albinismo, confesso q fiquei sem chão, com o tempo fui observando q ele era uma criança tão normal qto outra qualquer, porém bem branquinho, seus cabelos bem claros, cílios e tbm sobrancelhas e fui tendo a certeza do Albinimo.
    Ele é uma criança linda, minha vida.
    Parabéns por esse trabalho.
    O Albinimos é tão pouco comentado ....

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  7. Oi Cris,
    aos poucos vamos mudar essa situação, voce vai ver! Já avançamos bem nste anno com mtas pautas na mídia, 2 projetos de lei estaduais. E vamos conseguir mais.
    Mas, temos que trabalhar!
    Abços

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  8. Parabéns pelo blog!
    Pessoas como vc fazem a diferença.

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  9. Parabéns pela superação,,,Ou melhor vc nunca esteve por baixo e Sempre Foi um vencedor, respondendo em "Viver a Vida".

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  10. Parabéns pela sua luta em prol aos albinos!Acabei de te ver na Globo, continue assim, todos somos um só para Deus!Bjus Jocely Veneri

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  11. PARABÉNS PELAS SUAS CONQUISTAS E VITÓRIAS. CARA, VOCÊ É EXEMPLO REAL DE VIDA E DE SUCESSO. QUANTA GENTE SE MIXA POR POUCA COISA E VOCE BATALHOU SENDO UM GUERREIRO LEAL Ä VIDA. BEIJOS CHEIO DE ORGULHO

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  12. Oi Roberto, acabei de assistir ao seu depoimento no final da novela, gostaria de parabenizá-lo profundamente. Parabéns por se amar acima de tudo e de todos e reconhecer seu potencial. Fiquei emocionada pois me lembrei de uma grande pessoa que foi meu colega na faculdade de medicina, o Tarcísio, chamado carinhosamente de Tatá. Brilhante aluno, muito querido. Um grande abraço,
    Kátia de Souza Costa Alves

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  13. LEGAL ESSA PAGINA , SOU ALBINO, SOU UMA PESSOA FELIZ ALEGRE, AMO A MÚSICA, GOSTO DE COMPOR, TOCAR E CANTAR.

    PARA VENCERMOS O PRECONCEITOS, TEMOS QUE ACREDITAR EM NÓS MESMO E NÃO TER VERGONHA DE ASSUMIR O QUE SOMOS.

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  14. querido roberto, você é grande guerreiro e tem um lindo sorriso, que completa todo o seu brilho, parabens por sua luta e seu exemplo que me encoraja em minha luta tambem!!!!!!!!!!!
    maria solidade

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  15. Olá professor,

    Não tenho o hábito de ver novela, mas ontem por acaso, assisti e no final, o seu depoimento me deixou emocionada. Obrigada por suas palavras, parabéns por ter se feito (ter se feito, pois nós somos responsáveis pelo que somos, pelo que nos tornamos) uma pessoa tão especial, tão iluminada.
    Um exemplo para mim!
    Grande abraço

    Patricia

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  16. Querido e estimado amigo Roberto
    Parabéns pelas suas conquistas
    Você sempre foi uma pessoa batalhadora e vitoriosa.
    Tenho o maior orgulho de ter sido sua companheira de escola...
    Tenho vc em minhas melhores recordações.
    Parabéns por vc ser o que é.
    Bjos
    STELLA MARIS

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  17. Oi roberto parabéns pela sua garra e superação , sinceramente mesmo sendo estudante de Pedagogia e tendo tanto interesse no papel do educador com informações de inclusão , nem imaginava que existisse tanto preconceito por que sinceramente tenho amigos diferentes e legais assim como tenho certesa que vc seja , e nunca percebi . è bom saber o quanto o ser humano pode ser injusto e conplexo acho que por medo do desconhecido nunca se esqueça que vc é um vencedor bjs. é boa sorte

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  18. Oi Roberto
    Moro aqui no Canada e assino a TV globo e porisso pude ter tido a prazer de te ver no depoimento da novela e assim que vi, disse pra mim mesma....conheco essa pessoa e claro, sou penapolense e tenho quase a sua idade, porisso me lembro muito de voce andando pela nossa cidade. Mas devo te dizer que com certeza voce chamava minha atencao mas nao de forma discriminativa ou outra coisa qualquer e sim como uma pessoa que nasceu com alteracao genetica. Mas de qualquer forma quero te dizer que me orgulhei de voce estar fazendo esse trabalho e quero aqui parabeniza-lo e incentivar a continuar.Um grande abraco. Eneida Sanches

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  19. Assisti seu depoimento na novela e desde então me tornei sua FÂ Nº. 01, pela grande lição de vida para muitos que acham que são tão limitados ao ponto de se entregar as frustrações da vida. Atualmente moro em Ouricuri-pe, e observei que aqui há muitos albinos e muitos deles tambem devem sofrer descriminações, mas isso não impedem de serem pessoas tão especiais como tu. Parabens por tudo que tu fazes, parabens por ser um grande homem.Gostaria muito de te conhecer pessoalmente. Tu me fizestes ver que posso chegar além das minhas limitações. Um forte abraço.

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  20. Assisti o seu comentário na televisão e fiquei bastante contente, não sabe como me ajudou. Não sou albina, mas pelo fato de ser muito tímida e insegura já fui muito discriminada e humilhada ao longo da vida, indentificando assim com seu relato. O negócio é não se entregar às frustrações jamais!

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