sábado, 21 de fevereiro de 2009

SABATINA DO SEBE

Dia desses recebi email do Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy (acho o sobrenome dele chiquérrimo!), do NEHO, Núcleo de Estudos em História Oral, que funciona na Universidade de São Paulo. Através de algumas perguntas muito bem-humoradas, o amigo de quase 10 anos me ajudava a fermentar idéias pra melhor estruturar as propostas da “causa albina”. Aliás, cumpre dar crédito a ele por essa expressão. Ta vendo só, Zeca? A sua terminologia chegou até ao título da reportagem da Folha de São Paulo!

Abaixo estão algumas das perguntas, seguidas de minhas respostas. Cumpre ressaltar que não tenho a pretensão de responder por TODOS os albinos. Uma vez que não temos um movimento organizado e este é um blog de cunho pessoal, as respostas expressam pontos de vista meus, os quais, não são necessariamente “corretos”.

1- Quantos albinos existem no mundo? Deve haver alguma estatística. Ou elas também são discriminadas? Sabem-se números de paraplégicos, adictos, gays, adeptos da gafieira. Por que nunca sabemos quantos albinos existem?
Conheço 2 estatísticas a respeito. Uma norte-americana que diz que há um albino para cada 17,000 pessoas e outra européia, cuja estimativa é de um albino para cada 10,000. No Brasil, desconheço números referentes à população com albinismo. Essa ausência de dados talvez se explique pelo fato de que o censo realizado pelo IBGE não leva em conta a existência de albinos. É isso mesmo, professor, não há pergunta no censo sobre albinos. Até onde sei, somos computados como “brancos”. Desse modo, fica difícil saber quantos somos, não?
2- Toda causa tem uma bandeira, se você alega que os albinos aparecem facilmente, são de identificação imediata, que pretendem? Aparecer também destacados nas revistas e televisão? Mas, isto não seria muito preconceituoso?
O problema da representação de albinos na mídia é que essas representações são, em sua grande maioria, negativas ou distorcidas. Albinos são vilões, paranormais e por aí afora. Há um site norte-americano que compilou algumas dessas representações. Oportunamente, eu o postarei no blog para que você tenha uma idéia melhor do que estou afirmando.
Creio que alguma forma de exposição positiva dos albinos poderia servir para despertar na população em geral, maior percepção a respeito dos problemas que enfrentamos. Vou dar um exemplo pessoal: uma vez tive que resolver um desses problemas de FGTS ou algo parecido e o guarda do banco queria que eu ficasse na fila, a qual se estendia em pleno sol fora do banco. Argumentei que não posso ficar exposto ao sol e que preferiria ficar esperando do lado de dentro. Disse que respeitaria meu lugar na fila, mas na sombra. O segurança disse que seria impossível, que teria que ficar na fila como todos os demais. Não tive a menor dúvida e fui falar com o gerente, o qual prontamente atendeu meu pedido. Mas eu sou bocudo, sou “dotô”; será que alguém mais simples não teria simplesmente obedecido a essa ordem absurda e se exposto ao sol desnecessariamente? Se as pessoas fossem melhor educadas sobre o problema, isso poderia ser evitado. Por isso, creio que exposição positiva na mídia é um bom começo. Mas não é tudo!
Necessitamos aparecer no censo, por exemplo. Por que? Porque assim se poderia traçar um perfil sócio-econômico da população com albinismo. Na Bahia existe uma associação de albinos – a APALBA – e lendo um texto na internet, percebi que albinos geralmente tem que trabalhar como autônomos devido a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Provavelmente seja uma parcela da população que tenha renda mais baixa. É importante saber isso porque ser albino custa caro. Por vezes, temos que usar óculos especiais. Eu, por exemplo, tenho 3 pares: um com lente transition, um par de óculos escuros com grau e ainda um outro pra leitura. Será que todos os albinos têm condições pra isso? Duvido muito... E os gastos com filtro solar? Sai caro porque temos que usar fatores de 30 pra cima e SEMPRE. Eu uso até em dia de chuva. Assim, saber o nosso número e traçar nosso perfil sócio-econômico poderia servir de baliza inicial pra que políticas públicas de saúde fossem feitas pra atender as necessidades dessa parcela da população. Distribuição de protetor solar grátis pra albinos! Isso parece que ocorre em Salvador. Temos que levantar essa bandeira e reivindicar isso pro país todo.
3- É fácil denunciar os males da sociedade contra os albinos. Há, contudo, casos interessantes como o de Lençóis no Maranhão. Por que será que os albinos não falam disto nunca? Desmentiria a história do preconceito?
Eu me pergunto se os albinos sequer sabem da existência dessa comunidade. O Brasil é gigantesco e os albinos são um grupo bastante fragmentado. Creio que isso torna a circulação de informações e experiências muito difícil. Você certamente conhece relatos de gays e lésbicas de antes dos anos 1970, nos quais eles afirmavam que se sentiam sós no mundo, como se fossem os únicos “diferentes”. A História Oral já deu conta disso. Em minha dissertação e tese, chego a falar a respeito. Será que, de alguma forma, fenômeno similar não ocorra com albinos?

Bem, essas foram as perguntas da sabatina. Quero agradecer ao Prof. pelas perguntas, pelo interesse e atenção.

Aos leitores do blog, sugiro uma visita ao site do NEHO. Trata-se de um grupo muito competente e simpático, que pode tornar-se valioso aliado na “causa albina”. Que tal uma história de vida dalgum albino em edição futura da Revista Oralidades, Zeca?
http://www.fflch.usp.br/dh/neho/

2 comentários:

  1. Temos que chamar a atenção da população brasikeira podemos reunir os albinos em uma grande apresentação de arte ,musica , dança,somente com os albinos como artistas logico e aproveitariamos o evento para falar para o mundo todo o preconceito que sofremos na escola, nas ruas que poucos conhecem.

    ResponderExcluir
  2. Jailson,obrigado por estar acompanhando o blog e pela sugestao. Acho mesmo que deveriamos fazer com que mais pessoas saibam sobre o preconceito que existe.

    ResponderExcluir