sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

BARRA FUNDA-USP

Durante três anos - entre 1999 e 2001 - cursei disciplinas pra obtenção dos créditos necessários pro mestrado. Viajava 500 kms. semanalmente para estar na USP pras aulas. Eu costumava tomar o ônibus que saia do terminal Barra Funda. Essa linha não mais existe. A gente descia a escada rolante e o ponto já era o primeiro ou o segundo. Eu preferia tomar o metrô e ir até o terminal pra pegar o busão do que ficar esperando nalguma rua qualquer debaixo do sol. Estratégias albinas de sobrevivência... Gastava mais tempo, mas era menos exposição ao sol.

A maioria das disciplinas que cursei foi na parte da tarde, começando por volta das 14:00. Então, eu pegava o bumba que saia por volta das 13:00. Várias vezes vi na fila um menininho e uma menininha, acho que no fim da adolescência ou começo dos 20. Eram universitários porque eu via o material, às vezes seguravam algum texto. E quando calhava de ficarem ao meu lado, eu os ouvia falando sobre trabalhos, provas, professores, colegas, textos que haviam lido, enfim papo de aluno. Cursavam História. Eu sempre tentava me sentar atrás ou em frente deles no ônibus pra ouvir as conversas. Que ódio que dava quando o ruído infernal de Sampa fazia com que eu perdesse alguma coisa que diziam! Vocês já repararam que a gente sempre perde a parte mais interessante?

Eu poderia clichetar essa narrativa dizendo que com o tempo passei a ansiar por aquele momento e que vinha no metrô pensando se os veria ou não. Mas isso não acontecia. Se estavam lá, me interessava em ouvir o que diziam, se não estavam, paciência, não estavam, ué!

Um dia puxei papo. Adoro puxar papo. Passa o tempo e eu gosto de ouvir histórias. A garota era mais recpetiva que o garoto. Na verdade, ele só falava oi e nada mais. E eu também não insistia. Na verdade, nem com a guria. Trocávamos umas palavrinhas apenas. Ela era muito simpática, mas claro que queria falar com o amigo da idade dela. Pelo que percebi, eles não vinham juntos ao ponto de ônibus porque alguma vez encontrei só um lá; o outro chegava depois. Então, queriam pôr a conversa em dia, acho.

Por duas vezes escutei-os falando sobre um queridíssimo meu que lecionava lá na História. Não sei o que o menino falou, mas ouvi claramente a amiga responder algo a respeito do professor ser uma gracinha e de ter vontade de pegá-lo no colo. Não, não se preocupem, não percebi uma gota de sacanagem alí. Ela disse mesmo naquele tom de afeto que algumas pessoas têm por figuras com carinha de vovô etc. Eles ainda comentaram a respeito dum chaveiro que ele tinha. Se não me engano eu me lembro do tal chaveiro. Parece que era verde ou roxo, bem gritante. Não se tratava de breguice do professor, garanto. Tenho pra mim que também era tática de sobrevivência. Ele também é meio cegueta. Menos do que eu, mas ainda assim cegueta. Ele vai ler esse post, e então talvez poderá me esclarecer quanto ao chaveiro. Isso se ele se lembrar disso. Eu tenho uma memória boa pra bobagens....Foi difícil segurar o riso na história do colo e do chaveiro.

A outra vez que ouvi o nome do professor foi com relação a avaliação. Parece que havia a opção entre escolher fazer um trabalho, fichamento ou sei lá o que ou uma prova. Lembro do menino todo inconformado com a escolha dum colega de sala. Algo do tipo: "acha, o fulano preferiu fazer a prova do .....! Magina, o cara é louco!" As provas dele deviam ser de lascar. Acho que ele chegou a dizer "foda", mas não sei dizer. Uma coisa dava pra perceber entretanto: eles adoravam o professor.

Ah, lembrei, lembrei, lembrei! Parece que a outra opção era fazer uma entrevista. Agora, escrevendo o texto, lembro que eles comentaram alguma outra vez que estavam fazendo entrevista etc. Lembro até qual era o tema. Bisbilhoteiro eu, né? Eu ouvia tudinho que dava!

Além desse assuntos acadêmcicos, eles também falavam das famílias, brigas, enfim, os dois eram aquele tipo de amigo que contava um pro outro, parecia.

Eu não os via toda semana, Lembrem-se de que no início disse que os vi várias vezes, mas eram "encontros" de ponto de ônibus.... E então, eis que um dia ao descer a escada rolante e me dirigir ao ponto, reparei que eles estavam mais juntinhos do que de costume. O clima não era mais de amigo. Estavam trocando beijinhos, falando mais baixinho. Estavam namorando! Achei tão fofinho! Naquele dia a menina só me falou um oizinho e virou as costas pra dar total atenção ao outro pombinho.

Nunca mais os vi. Isso parece desfecho de história inventada pra por as personagens vivendo felizes para sempre, mas não é. Nunca mais os vi mesmo. Não me recordo se foi porque vieram férias e eu não tinha que ir a Sampa. Eles podem ter mudado de ponto de ônibus. Também podem ter se graduado. Enfim, o que querque tenha sido, nunca mais vi nenhum deles.

às vezes me lembro deles. Será que estão juntos até hoje? Estariam fazendo o quê da vida? Mas acho melhor nao saber. Bom lembrar dessa hhistória assim do jeito que ela é.

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