terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

EASTER EGG HUNT

Sabem o que venho percebendo de tempos pra cá? Que um dos critérios de avaliação de filmes, séries, seriados etc é a quantidade de "citações" e "referências" que contem. Jornalistas e cinéfilos se deliciam em apontar isso e parece que virou sinônimo de qualidade e até de esperteza dos diretores/autores rechearem suas obras com "citações" e referências".

"O filme é cheio de citações!". Ouvi/li isto diversas vezes escrito/dito entusiasticamente.

Funciona mais ou menos assim: se for um filme sobre a máfia, a câmera focaliza o nome dum restaurante chamado Corleone's. Pronto! É uma citação/referência ao Poderoso Chefão! Wow! Se bem que eu fui meio grosseiro aqui... Cita melhor quem o faz mais escondidinho. Se a gente descobre o nome do restaurante dando pause no dvd pra observar o nome no guardanapo, daí a referência é mais valiosa ainda!!! Wow, afinal, ela está velada, né gente? Tão bem sacado, nossa!!!

Pouco parece interessar a função que isso tem na estrutura narrativa, por exemplo, se a citação X ou Y brechtianamente problematiza alguma questão; se empresta nova significação à cena/personagem etc. Não. Até porque em muitos casos essas citações parecem existir apenas para mostrar que o diretor conhece muito de cinema. Então, tudo se resume a uma espécie de caça à citações. Faça um filme de terror e coloque uma personagem chamada Jason e já é uma citação ao Sexta-Feira 13. Faça um filme que tenha 34 referências e seu filme já é forte candidato a ser "inteligente", "esperto", "bem sacado" etc. Que isso possa ocultar - como geralmente ocorre - uma profunda ausência de criatividade/falta de talento/ total ausência do que dizer, não vem ao caso.

Ganha que citar mais ou quem descobrir mais referências escondidas. É mais esperto quem viu mais, assim como é melhor quem consome mais. Esta é a lógica do capitalismo, náo é? Então, por que haveria de ser diferente na avaliação "crítica"?

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