terça-feira, 8 de setembro de 2015

TELINHA QUENTE 176

Roberto Rillo Bíscaro

A Inglaterra foi em parte responsável pelo sucesso mundial do Nordic Noir/Scandi Drama. Depois que shows escandinavos como Forbrydelsen e Borgen tornaram-se fenômenos cult forçando a classe-média britânica a ler legendas, a tendência espalhou-se pra outros países e desde meados da década passada a Europa setentrional dita as normas do melhor em séries policiais.
Hoje, a TV inglesa exibe até sitcom norueguesa (Dag, logo verei a primeira temporada) e comerciais de produtos islandeses, como o delicioso iogurte Skyr, além de adquirir direitos de transmissão de séries ainda em produção, caso da islandesa Trapped. A exibição da minissérie norueguesa Mammon (2014), no primeiro semestre, pode ter sido a pedra inicial no caminho florido e aprioristicamente aclamado do Nordic Noir em solo britânico. Os 6 capítulos são só clima; substância, praticamente nada. Quase penso que se tratou de oportunismo de gambiarra pra aproveitar a boa fase de exportação de produtos culturais nórdicos.
Um jornalista investiga fraude financeira e descobre que seu irmão mais velho é um dos pivôs. Pouco depois dum confronto fraterno, Daniel estoura os miolos na frente de Peter, que desconsolado, transfere sua área de atuação pro jornalismo esportivo. Cinco anos se passam – e todo mundo está idêntico, alguns até com a mesma roupa – e a viúva de Daniel recebe uma caixa com instruções, que leva Peter e ela a um rio. No momento em que os cunhados estão lá, um carro despenca n’água, o motorista é salvo por Peter, apenas pra se suicidar em seguida, não sem antes gritar Abraão! Como Daniel podia saber que 5 anos após sua morte outro cara de sua turminha estaria sob investigação e no precioso instante em que seus familiares estivessem cumprindo suas instruções, jogaria o automóvel no rio, blá, blá, blá? Visto que nada é encontrado nas águas, assume-se que o objetivo de fazer as personagens irem lá era pra presenciar o suicídio. Arbitrariedade grosseira, heim? E essa é apenas uma dum roteiro que deixa fios soltos bastantes pra tricotar uns 3 suéteres pra Sara Lund.
Mistura teoria da conspiração, segredos familiares e mambo jambo religioso; afinal, o título é a palavra hebraica pra dinheiro, presente na Bíblia. Há toda uma pseudo-sub-trama envolvendo Abraão e sacrifícios de infantes; há versículos do Gênesis no verso de quadros e, sobretudo, muita desonestidade com o telespectador. 5 capítulos nos deixam no escuro inverno norueguês e a explicação no derradeiro é pífia, nem de muito longe compatível com o suspense armado. Se é que se pode chamar de suspense, aquele monte de informações desconexas.
Mammon é despida de qualquer qualidade redentora; nem as tomadas na belíssima Bergen são bem aproveitadas. Certamente a série reforçará o estereótipo da alta incidência de suicídios na Escandinávia, não apenas pela taxa de praticamente um por episódio, mas também pelo tédio suicida que a narrativa causa. Um embuste a ser evitado. Considerem-se alertados.

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