sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PAPIRO VIRTUAL 97


Roberto Rillo Bíscaro

Arqueólogo da Melhor Década, a leitura de Mad World – An Oral History of New Wave Artists and Songs that Defined the 1980’s (resenha aqui) me deu vontade de ler sobre o cenário nacional do rock naqueles anos de abertura política, hiperinflação, ágio da carne, Rock in Rio e roupas multicoloridas. Achei uma dissertação online; maravilha de internet e digitalização dos acervos universitários! Aline do Carmo Rochedo defendeu o trabalho “Os Filhos da Revolução: a juventude urbana e o rock brasileiro dos anos 1980”, na UFF, em 2011.
Dividido em 3 capítulos, o inicial traz os pressupostos teóricos norteadores da pesquisa, como a História Oral usada como ferramenta, uma vez que diversos protagonistas da década foram entrevistados, mas aparecem no texto apenas os trechos das falas que servem aos propósitos da autora. Recorrendo acertadamente a Pierre Bordieu, Rochedo trabalha com o conceito de juventudes. Segundo ela, o rock brasileiro explodiu nos anos 80 no seio duma classe média urbana ansiosa por mudanças e cansada da ditadura (apoiada por amplos setores dessa mesma classe média nos 60’s). A conjunção de elementos como sede de liberdade; vontade de acertar o atrasado passo nacional com o que acontecia lá fora e a explosão duma rede de divulgação no eixo Rio-SP,  envolvendo revistas e rádios prestando atenção ao rock são alguns dos elementos pra supremacia do BRock por alguns anos oitentistas.
BRock foi conceito criado pelo jornalista Arthur Dapieve na imprensa já nos 80s, enfocando o rock da década como amadurecimento do gênero. Isso é colocado no trabalho como opinião universalmente aceita, mas não é Basta ver o documentário 50 Anos do Rock Brasileiro pra noção discordante, segundo a qual a explosão oitentista deu-se justamente porque o rock teria sido “aguado” com pop.
No cap. II, ela resume a trajetória de algumas bandas, sem deixar evidente o critério de escolha. O caráter de investimento pessoal – por ser trabalho acadêmico – provavelmente restringiu o escopo pra bandas de São Paulo, Rio e Brasília, mas não dá pra saber porque ela entrevistou Bruno Gouveia do Biquíni Cavadão, mas a banda não consta das biografias do capitulo 2.  Difícil entender porque parece que  o Kid Abelha foi esnobado em quase todo o trabalho – ate mesmo na parte que não necessitava de entrevista; o da análise de letras – pra nas considerações finais receber alguns parágrafos de elogio por Paula Toler ser mulher, dando impressão de se tratar dum “puxadinho” na dissertação.
Usando ideia também já corrente nos 80’s, Rochedo afirma que as bandas cariocas eram mais voltadas pra diversão, mais New Wave (alguns dizem que a NW é domesticação classe-média do punk, mas isso não aparece no texto); as de Brasília mais politizadas e as de Sampa influenciadas pelo punk-rock, embora ela não tenha entrevistado nenhuma realmente filiada ao punk. Por mais que Titãs tenham lançado o importante Cabeça Dinossauro, eles não nasceram sequer perto da periferia, quem dirá do ABC punkoso.
O terceiro capítulo é dedicado a análise de letras, divididas em categorias como cotidiano, amor. Nessa parte que talvez ela pudesse ter incluído letras de não entrevistados ou até de bandas cujas trajetórias não tenham sido delineadas no capítulo II – o mais interessante do trabalho.
“Os Filhos da Revolução: a juventude urbana e o rock brasileiro dos anos 1980” é gostoso de ler e animadora mostra de que conforme pesquisadores mais jovens penetram no sistema acadêmico, assuntos pertinentes a nossa geração setentista/oitentista ganharão mais destaque.
Pra ler/baixar a dissertação, clique no link:


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