quinta-feira, 3 de setembro de 2015

TELONA QUENTE 127

Roberto Rillo Bíscaro

Quando se historiciza o sub-gênero slasher, é obrigatório citar o italiano A Bay of Blood (1971), o canadense Black Christmas (1974) e há quem remonte ao hitchcoquiano Psicose (1960) pra desencavar características temático-formais do tipo de filme “inventado” por Halloween (1978), popularizado (detratores escreveriam bastardizado) por Sexta-Feira 13 (1980) e replicado à exaustão na fase áurea 80tista. Menos frequente é a menção ao obscuro The Town That Dreaded Sundown (1976). Slashermaníaco, há anos tencionava ver a produção. Há um par de fins de semana, aproveitei o ensejo de ver a homenagem do ano passado e fiz sessão dupla.
O diretor Charles B. Pierce, em plena América desencantada pós-Vietnã/Watergate/Crise do Petróleo, jogou balde de água gelada na tola idealização do Pós-Guerra, como período de inocência e paz. Entre fevereiro e maio de 1946, um assassino em série, conhecido como Phanton Killer, chacinou 5 pessoas na região de Texarkana, cidadezinha perdida na fronteira do Texas e Arkansas. Naquele ano, a comunidade se armou até os dentes, trancafiou-se em casa e literalmente abandonou Texarkana às dúzias devido ao pânico. Os ataques cessaram tão repentinamente quanto começaram e nunca se capturou o matador.
Mentindo que os fatos narrados são fidedignos aos acontecimentos, The Town That Dreaded Sundown quase não conseguiu molhar ninguém com seu banho de água gelada, mas isso não deve ser motivo de pesar: é bem ruim. Com elenco péssimo – o oscarizado Ben Johnson amargando decadência, protagoniza -, uma personagem horrível como alívio cômico que apenas enche o saco e problemas de ritmo, The Town That Dreaded Sundown vale mesmo pra fãs de Jason Voorhees verem seu “papai”. Não sei se o oportunista Sean S. Cunningham assistiu a isso, mas o Jason do segundo Sexta-Feira (onde 2 mortes são cópias de A Bay of Blood, diga-se) usa o mesmo tipo de roupa (até a cor!), o saco na cabeça e anda devagarzinho na floresta (e alcança a vítima que corre!), como o Phanton Killer.
A cena mais antológica é o assassinato com trombone, que o Phanton consegue assoprar mesmo com a fronha na cabeça! Notem como ele respira pesado (como em Black Christmas), prestem atenção às roupas, música incidental; puro Friday the 13th.

Muito, mas muito mais legal é a meta-homenagem homônima dirigida ano passado pelo estreante Alfonso Gomez-Rejón. 6 décadas após os assassinatos, o temor/culto ao Phanton Killer ainda assombra/fascina Texarkana. Todo Halloween, o drive in local reprisa o filme de 76. Durante uma dessas exibições, um mascarado mata uma mocinha e o pesadelo recomeça. Mas, quem seria o serial killer dessa vez? Teria alguma conexão com o verdadeiro Phanton? Poderia ter algo a ver com o filme? Pós-moderna e inteligentemente, o filme manipula ficção, realidade e “realidade”, além de não sucumbir à fórmula dos slahshers. Nada errado se o fizesse, mas diverte pensar que o primeiro pode ter dado algumas ideias ao sub-gênero e este, inserido portanto, numa tradição avolumada, não se submeteu ao conforto de segui-las. The Town That Dreaded Sundown 2014 obviamente apresenta lugares-comuns do horror, como mocinha traumatizada desacreditada e perseguida e reviravolta-surpresa na conclusão, mas é tudo tão bem-feitinho que nos absorve na história.  Até dinossauro de volta o filme traz, como tantas produções de horror têm feito. Veronica Cartwright faz a avó da mocinha.
Vai ver que o número de espectadores do filme de 76 aumentou devido ao de 2014. Não sei; tudo que sei é que pro público geral, recomendo apenas o mais recente. Que o outro fique pros fãs roxos de Sexta-Feira 13.

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