segunda-feira, 7 de setembro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 182

Roberto Rillo Bíscaro

Tanta música boa a mulherada tem lançado que tenho que fazer dobradinha – e talvez semana que vem – pra não ficar mais defasado ainda nos comentários sobre coisas que ouvi e me despertaram, nestes casos, positivamente. A dose dupla da vez é de cantoras norte-americanas; uma veterana, outra estreante (semana que vem será nesse mesmo tema, mas sobre inglesas, vamos ver...)
Gravando desde o ano 2000, Jill Scott lançou Woman, seu quinto álbum, em julho. Sua voz quente literalmente empresta Soul (alma) pra dozena de canções, dos mais variados estilos, que compõem esse trabalho que não abre espaço pra rapper falando e fazendo uh hu uh hu. Talvez o mais “moderno e vanguardista” seja a guitarra psicodélica de Say Thank You sobre fundo meio trip hop. Intelectualmente muito criativo, mas pouco engajante. Não se engane, porém, Woman não soa retrô.
O bom mesmo são as ondulações sensuais de Can’t Wait e Fool’s Gold; o fogo vocal dançável de R’n’B sessentista de Run Run Run e Coming to You, que também lembra funkaço à James Brown. A gritaria abençoada com base no spiritual resultando em balada diz presente em You Don’t Know e Back Together.
Chatinhos são as falações e interlúdios que cortam o T depois de um par de ouvidas; já deletei, quero música não papagaiada.
Não escutei por aqui, mas no canal aparentemente oficial da Jill, há o álbum completo.

Se você busca sonoridade retrô, seu oásis está em Cheers to the Fall, estreia de Andra Day, lançado dia 28 de agosto. Em 2012, ela postou alguns covers no Youtube, que fizeram o maior sucesso. Logo estava fisgada pela Warner. Esse apelo cyberpunk D.I.Y., mais a esperança das gravadoras de acharem a sucessora de Amy Winehouse e/ou a nova Adele jogaram a favor da moça, que não escapará, porém e por isso, das comparações inevitáveis com as 2 vozonas inglesas.
Inevitáveis referências, porque em diversos momentos o álbum beira à clonagem, mas não sejamos apressados em atirar o pau na gata; Andra tem muito charme e carisma próprios. Only Love soa realmente como Amy, mas também mostra seu potencial pra gravar uma canção-tema pro James Bond; parece que estamos ouvindo alguma música bondiana dos 60’s, mas há uma sub-camada de scratches transformados em instrumentos. Outros momentos Amy são Goodbye Goodnight e Gin & Juice; enquanto Rearview, Rise Up e Red Flags têm mais jeitão de composições pra/de Adele. Escrevendo assim, parece que estou querendo definir Andra Day negativamente. Não mesmo; é só pra dar uma ideia de como ela soa. Longe de ser mero fantoche ou cópia barata, o resultado dessa estreia é de alguém procurando sua voz, seu nicho. As 13 canções trazem o pathos de um talentão, percorrendo rhythm’n’blues, easy listening, baladas derramadas; soando antiquada como Amy, mas paradoxalmente moderna como a falecida. Se bobear entrará pra minha lista dos melhores do segundo semestre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário