segunda-feira, 30 de junho de 2014

CAIXA DE MÚSICA 132


Roberto Rillo Bíscaro

Pelo que lembro, comentei sobre 2 documentários de rock nacional: um sobre o punk paulista e outro sobre o rock brasilense dos anos 80. Ambos com recorte bem definido e que, mesmo assim, tiveram que deixar coisa de fora. Imagine um que se proponha a contar a história do rock deste país maior do que a Europa!
Idealizado por Marcelo Rossi e financiado com recursos do governo paulista mais patrocinadores, 50 Anos de Rock Brasileiro entrevista mais de 50 músicos e críticos pra traçar um painel do que tem rolado por aqui desde os anos 50. A amplitude da proposta e a escassez da verba pra dar conta de tamanha empreitada frustram um pouco, mas quem curte rock deveria assistir ao resultado, disponível no You Tube.   
A primeira parte destaca o nascimento do rock brasuca em fins de 1950 e a década de 1960, quando a Jovem Guarda explodiu. O primeiro rock nacional foi Rock Around de Clock, gravada por Nora Ney. Embora artistas como Cauby Peixoto e Lana Bittencourt tivessem gravado canções no emergente estilo, eles eram artistas de samba-canção e boleros que se aventuravam em lados B meio roqueiros, tenteando o possível novo mercado jovem.
O estouro mesmo veio em 58 com os irmãos Tony e Cely Campello, mais com a segunda, que, no país que tanto ansiava em se modernizar 50 anos em 5, estourou com seu Estúpido Cupido e Banho de Lua, agradando desde o netinho à vovó.
Nos 60’s, bandas como Os Incríveis venderam respeitáveis 200 mil cópias e, pasmem, um milhão de compactos em japonês! O legal do programa é conhecer essas histórias da boca de quem as viveu.
Fica de lado o grande embate entre Jovem Guarda, acusada de alienada e colonizada, e os defensores da Bossa Nova/MPB, que resultou até em passeata contra a guitarra elétrica. No lugar, aparece Ronnie Von corretamente desmentindo ter pertencido à Jovem Guarda. Ronnie e os Mutantes eram de turma mais influenciada por Beatles e psicodelismo inglês, vide a tríade de álbuns psicodélicos do Príncipe (não da Jovem Guarda), infelizmente pouco divulgados (pra não dizer esquecidos).
Por mais legal que sejam as entrevistas, fica aquela danada vontade de que mais atenção e pesquisa mais detalhada e ampla seja feita pra conhecermos bem mais sobre esse período que periga ficar soterrado no tempo se não resgatarmos logo os relatos dos partícipes.


O segundo grupo de entrevistas abrange os anos 70, os Anos de Chumbo, em referência à repressão da ditadura militar, que também perseguiu roqueiros não apenas por letras, mas pela simples intolerância ao visual cabeludo, como relata uma dos membros do Made in Brasil.
Um monte de artistas é citado, não apenas medalhões como Raul Seixas ou Secos & Molhados. Ponto pro documentário. O cenário de rock progressivo tem destaque e é interessante/instrutivo perceber como a quase totalidade dos roqueiros operava no underground, posto não receberem atenção da grande mídia, exceção dos Secos & Molhados ou de pessoas que popearam a sonoridade, tipo Guilherme Arantes, que abandonou o Moto Perpétuo pra emplacar sucesso atrás de sucesso em trilha de novela global (nada contra). A invisibilidade desses artistas roqueiros só piorou com o sucesso da novela Dancin’ Days e o estouro da disco music fabricada (em todos os sentidos) no país.
Tirando a prolongada história de como o guitarrista do Tutti Frutti descolou a guitarra que o acompanha até hoje, é muito legal ver essa abordagem setentista e alguns de seus protagonistas.


Assistindo à terceira parte de 50 Anos do Rock Brasileiro, sobre os frutíferos anos 80, ocorreu-me que o diretor poderia usar dos auspícios do fomento cultural paulista pra verticalizar sua pesquisa e criar uma série dedicada ao rock produzido em nosso estado. Isso daria mais profundidade e evitaria ausências de bandas como o Fellini, Mercenárias, Maria Angélica Não Mais Mais Aqui e o sorocabano Vzyadoq Moe, pra citar apenas algumas.
Os entrevistados corretamente atestam que nos 80’s o rock virou moda, porque veio encarnado em pop, tipo Blitz, Kid Abelha e tantos outros. Como moda, as gravadoras investiram em muita bobagem, mesmo que hoje nós oitentistas morramos de saudade e alguns se autoenganem dizendo que antigamente se fazia música melhor ou as coisas eram mais inocentes.
Mesmo tentando cobrir cenas como a brasiliense, gaúcha e a baiana – Marcelo Nova participa – fica faltando relevo à importante carioca e mesmo à mineira com grupos como Último Número.  
Muito legal desse documentário é não deixar de fora o metal, hard rock e vertentes que não tiveram sucesso comercial nos anos 1980, daí, conheci bandas, anotei nomes e vou procurar.

Apesar do problema da falação estendida que às vezes cansa, a derradeira parte, que trata dos anos 90 e 2000, foi-me deveras instrutiva. Depois da geração 80, conheci pouca coisa de ouvir, mais mesmo de nome (e olha lá!). Segundo os depoentes, o sucesso do Sepultura no exterior fez as bandas nacionais quererem gravar em inglês pra repetirem o êxito. Isso mudou um pouco no meio dos 90’s com o sucesso dos Raimundos, originário de vasta cena cantada em português. Muita gente falando dos defeitos e fragilidades das bandas tipo NX Zero e Fresno, mas ninguém tentando convencer de sua qualidade; será mesmo que não possuem?

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