segunda-feira, 29 de abril de 2013

CAIXA DE MÚSICA 95


Lá por meados dos anos 80, começamos a ouvir/ler sobre as bandas de Brasília. Depois do estouro dos paulistas e cariocas Titãs, Ultraje a Rigor, Kid Abelha, sopraram ventos pós-punk do Planalto Central. Os Paralamas do Sucesso vieram de lá, mas soavam mais caribenhos, mais ska. O som de Brasilia vinha com fama de mais politizado; a sonoridade angulosa do punk e da cold wave britânicas, tipo Sex Pistols, The Clash, Siouxsie & the Banshees, Gang of Four (que muitos de nós, sem grana e/ou no interior não conhecíamos, mas amávamos porque a Bizz jurava que eram bons e “sérios”).
O documentário Rock Brasília – Era de Ouro (2011), do diretor Vladimir Carvalho apresenta parte da história da cena roqueira brasiliense do final dos 70’s em diante. O cineasta escolheu o grupo Aborto Elétrico como ponto de partida e suas bandas-filhote (Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial) pra representarem esse período dourado (nos termos do título). Se por um lado essa escolha implica no apagamento de bandas como Finis Africae, Detrito Federal, Escola de Escândalos e Arte no Escuro (surgidas depois da pioneira Aborto), por outro, permite um aprofundamento nas trajetórias daqueles grupos, sem dúvida, os comercialmente mais bem sucedidos da cidade. Surgidas em famílias de classe-média intelectualizada, Legião, Capital e Plebe tomaram o sul maravilha de assalto, e, consequentemente, fizeram sucesso em todo o país.

As quase 2 horas de documentário são compostas de entrevistas e imagens de arquivo, que deleitarão as testemunhas dos anos 80, mas também quem veio depois. Optando por não trilhar o caminho da caça às influências de cada banda, Carvalho buscou familiares, amigos, (ex)integrantes, produtores e gente como Caetano Veloso e o antropólogo Hermano “irmão-do-Herbert” Vianna. O mentor Renato Russo não poderia ficar fora e aparece em entrevistas antigas, muito bem adequadas. Claro que há menções ao The Cure e aos Pistols, mas o enfoque é mesmo na história e nas curiosidades sobre cada formação musical.
Conhecemos a construção da iconicidade de Russo, habilmente burilada pelo próprio desde bem cedo; divertimo-nos com a perplexidade de Chico Buarque de Holanda perante os passos de dança do vocalista da Legião Urbana, quando de sua apresentação no programa global Chico e Caetano (imagine que o Velho Chico sabia quem era a inspiração Ian Curtis!); somos informados da decadência e ressurreição do Capital Inicial.
Rock Brasília – Era de Ouro não cansa ou entedia, porque os depoimentos não são mecânicos e cheios de informações técnicas sobre gravações ou instrumentos musicais. É gente narrando sua história ou a de seus filhos, amigos, irmãos.
Vi cópia baixada do You Tube, mas quando procurei o link pra postar no blog constatei que a ora existente não tem som. Uma grande pena, mas, se eu fosse você, faria de tudo pra assistir. Não será tempo perdido.
E que venham mais projetos do tipo, pra eternizar parte da história de nossa juventude 40tona.

Nenhum comentário:

Postar um comentário