quinta-feira, 18 de abril de 2013

TELONA QUENTE 72

Ficção-científica não se restringe a espaçonaves, guerras interestelares ou cyborgs totalitários derrotados por humanos tecnologicamente subdesenvolvidos. Também não são necessários orçamentos cheios de zeros à direita do vírgula e efeitos especiais georgelucanos.
Domingo à noite, vi Transfer (2010), produção alemã, que, se não genial ou inquietante, pelo menos oportuniza discussões sobre racismo, tráfico de pessoas, (gen)ética.
Um casal de idosos, Hermann e Ana - a esposa é cancerosa terminal - procura uma empresa que promete vida eterna: as informações do cérebro velho são transpostas pra cabeças e corpos jovens. Os jovens são voluntários, em sua maioria imigrantes ou não-caucasianos, que por livre e espontânea pressão da necessidade econômica concordam em borrar suas existências. Apenas durante 4 horas por dia – mas, somente nos três meses iniciais de adaptação – as consciências dos jovens podem “acordar”. O altíssimo preço da transfusão de cérebros obviamente permite acesso apenas a europeus afluentes.
Transfer foca muito nos casais envolvidos no procedimento, mas é interessante ao mostrar como um branco inconsciente pro racismo e pra possiblidade de agência social começa a alterar sua opinião, quando, literalmente, na pele do oprimido/explorado. Claro que o ideal seria a desnecessidade disso, afinal, não carecemos pisar no caco de vidro pra saber que corta.
O tom pode ser sóbrio ou quieto demais pros desesperadamente acostumados a certo cinema norte-americano que apela pra emoção mais baratinha, mas essa distopia germânica pode ser pedida boa.

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