sexta-feira, 26 de abril de 2013

PAPIRO VIRTUAL 52

Voltei ao universo narniano, lendo The Horse and his Boy (1954), cujo título intrigou-me. Nos livros anteriores, C. S. Lewis apresentara um mundo criado por um leão, habitado por animais falantes, mas dado pros humanos governarem. Como no quarto livro da série, ele inverte a relação de posse colocando o garoto como propriedade do cavalo? Cri que fosse mais artifício estilístico do que algo incrustrado na narrativa.  Não deu outra. O cavalo falante Bree perde toda a importância nem bem chegada a metade do livro e os humanos assumem a supremacia. Mas, não qualquer humano...
Antes de esmiuçar esse ponto, pincelemos o enredo.
Shasta vive numa remota choupana à beira-mar com seu desagradável pai. Um dia, recebem a visita dum homem importante. O garoto escuta o pai combinando de vendê-lo ao visitante. Cogitando como escaparia, recebe oferta de ajuda do corcel falante do homem. Shasta não sabe cavalgar, mas a prática de galopar Bree o treina. O destino: Narnia, rumo à liberdade do norte, torrão natal de Bree, onde ambos serão livres. No caminho, encontram uma égua também narniana, galopada por Aravis, menina-princesa, treinada nas artes da batalha, fugindo de casa, porque não se casar com um repulsivo puxa-saco mor do mandatário da poderosa Calormen, cujos sonhos imperialistas incluíam anexar a pequena Narnia. A luta de Golias e Davi dos 2 reinos é o fulcro da estória, mas a nobreza inata (do homem, claro) também pesa muito. Na hora do vamos ver, nada do treinamento de Aravis pode fazer frente ao sangue azul de Shasta, filho sequestrado dum rei.
Shasta é alvo, diferenciando-o muito dos morenos habitantes de Calormen. Quando Lewis estabelece a diferença entre a etnia de Shasta  e a dos Calormen, cujos nomes, títulos e descrição física e temperamental remetem a estereótipos árabes/indianos é latente o tom de superioridade caucasiana. Exagero seria dizer que Lewis é um porco chauvinista, tadinho. Ele genuinamente tenta ser parcimonioso, mas é duma época/cultura que inexoravelmente empodera o macho branco. 

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