quinta-feira, 19 de junho de 2014

TELONA QUENTE 90

 
Roberto Rillo Bíscaro

No final dos anos 70, surgiram rumores de que alguns gays morriam duma doença brutalmente fatal: a taxa obituária era de 100%. No início dos 80, São Francisco e Nova York sentiram o poder da misteriosa enfermidade. Aos poucos, a comunidade gay sucumbia. 3 décadas depois, sabemos que a demora da mídia e do governo em noticiar ou lutar contra o caos deve-se ao fato de as primeiras vítimas serem homossexuais, latinos e negros, os então chamados grupos de risco.
How To Survive a Plague (2012) poderosamente documenta a resposta dos gays norte-americanos à homofobia, que levava ao descaso, que culminava em mortes. Fartos de esperar por medicamentos pesquisados e liberados pelo governo, ativistas se instruíram sobre a AIDS e formaram grupos como o ACT UP, que utilizava métodos pouco ortodoxos pra chamar a atenção da mídia e das autoridades governamentais e científicas. Desobediência civil como invasão de catedrais e congressos científicos, organização de marchas e protestos com atitudes chocantes, como despejar no gramado da Casa Branca urnas e urnas de cinzas de mortos pelas complicações do HIV.  Essa sequência, aliás, é inesquecível. 
O diretor David France reuniu incrível quantidade de material de época, que somados a entrevistas com remanescentes dos anos Reagan e Bush Pai, fazem de How to Survive a Plague fonte de inspiração pra qualquer ativista contemporâneo.
O documentário evita apresentar os ativistas gays e aliados como perfeitos. Eles reconhecem perda de tempo em disputas internas e até falta de foco ou desperdício de energia em algumas lutas quixotescas ou apressadas.  
A ausência de narrador pode desnortear quem não tem qualquer familiaridade com o tema e as legendas pequenas desconcertam nós com baixa visão, mas How to Survive a Plague não perde seu caráter obrigatório por isso.

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