terça-feira, 5 de abril de 2011

TELINHA QUENTE 14

Freud Explica

Roberto Rillo Bíscaro

Há pouco, terminei de ver a terceira temporada de In Treatment. Mudanças em relação às edições prévias. Baseada numa série israelense, as 2 primeiras temporadas seguiram os casos exibidos no original. A temporada exibida ano passado, trouxe material idealizado por roteiristas norte-americanos. O número de pacientes foi reduzido pra 3, possivelmente em função de redução de custos. Sucesso de crítica, In Treatment não atrai grande multidão de espectadores, devido a seu andamento bastante lento pros moldes televisivos.
In Treatment é a série dramática com menos ação dramática que existe por aí. Os pacientes e o terapeuta Paul Weston passam a maior parte do tempo sentados, reproduzindo o ambiente de uma sessão de análise. Ou seja, a ação é muito mais narrada do que atuada, nos moldes do teatro de Ibsen.
A galeria de pacientes continuou interessante. Sunil, ex-professor de matemática indiano, que após a morte da esposa tem que abandonar Calcutá e viver em Nova York, com o filho médico, casado com uma norte-americana. Apresentando um desejo muito mal velado pela nora, o homem de meia-idade torna-se agressivo e se sente preso em uma cultura que lhe parece hostil. Frances é uma narcisista atriz cinquentona que procura Paul por estar enfrentando problemas pra decorar suas falas. Sua irmã - em estado terminal de câncer – fora paciente de Weston e aí está a deixa pra que o roteirista revele a profunda competição entre as duas. Jesse é um adolescente gay que vive às turras com seus pais adotivos. Pra piorar as coisas, seus pais biológicos entram em contato pra tentar uma reaproximação.
Outra novidade da série é a mudança da terapeuta de Paul. A personagem Gina, vivida por Diane West, é mudada pra Adele, 20 anos mais jovem do que Weston, o qual, à princípio, mostra-se cético com relação à competência da profissional e traduz isso sob forma de agressividade. E é nas intensas sessões com Adele que o paralelismo entre o comportamento dos pacientes e o de Paul torna-se dolorosa e fascinantemente evidente. Se nas temporadas anteriores víamos um Paul em dúvida com relação á sua eficácia, essa terceira temporada revela um homem que em quase nada se distingue daqueles a quem tem a função de “curar”. Um dos prazeres desse In Treatment 2010 foi detectar como Sunil, Frances e Jesse são projeções de traços do Dr. Paul Weston ou vice-versa. A implacável Adele não deixa pedra sobre pedra, mas isso não significa que saia ilesa do processo.
Em meio a um elenco excelente, fica difícil escolher um predileto, mas, porque Adele foi minha favorita, fico com Amy Ryan. O oposto de Paul no que tange a envolver-se nos problemas de seus pacientes, a séria terapeuta tenta abrir os olhos de Weston sobre os perigos e sobre o dano que tal aproximação causa ao próprio terapeuta. Mas, como o roteiro da série é muito bem elaborado, há pelo menos uma cena onde Adele não segue o que prega. A humanidade, com suas qualidades e falhas, é uma dos grandes trunfos de In Treatment.
Em termos de história e desenvolvimento de personagem, meu troféu vai pra de Sunil, que, em sua última sessão nos revela uma faceta quase de thriller pra série. Um thriller narrado num divã! (exceto no último episódio...)
In Treatment pode resultar algo penoso de assistir porque diversas vezes nos reconhecemos nas personagens, especialmente naqueles padrões de comportamento que consideramos ruins ou que sequer percebêramos antes de vê-los na telinha. Seria tolice irresponsável dizer que um programa de TV substitui terapia, mas que mexe com a cabeça da gente, ah isso mexe!
A HBO anunciou o cancelamento do show, então, jamais saberemos a resposta pra interrogação que encerra a terceira temporada de uma das séries mais cerebrais da TV. 

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