segunda-feira, 11 de abril de 2011

CAIXA DE MÚSICA 28


Roberto Rillo Bíscaro

O Boyzone foi uma das boy bands europeias mais bem sucedidas dos anos 90. Os meninos irlandeses colocavam um single atrás do outro nas paradas britânicas e se tornaram astros no continente e em países como Austrália e Nova Zelândia. Pra mim, jamais passaram de um nome lido em manchetes musicais, cujos links nunca abri. Boy bands não são minha praia e sequer sei se foram famosos aqui. Creio mesmo não conhecer qualquer de suas canções e não estou interessado em preencher esse espaço em branco. Isto posto, já deve ter dado pra deduzir que não sigo as carreiras-solo dos ex-membros, cujos nomes nem sei.       
No começo da semana passada, espiei o Top Ten inglês, de uns temos pra cá povoado por nomes que nada significam prum quarentão. Em terceiro lugar estava o álbum When Ronan Met Burt. O alarme de fã disparou. Seria Burt Bacharach? Ronan não me dizia nada... Pesquisei e as suspeitas se confirmaram: um tal Ronan Keating regravara clássicos dum dos compositores populares mais importantes do século XX, meu amado Mestre Bacharach. Faltava descobrir quem era Ronan e isso foi fácil; ele era vocalista do Boyzone. Santo Google, não?
Mesmo com receio, decidi ouvir o álbum, claramente direcionado pra estar nas prateleiras como opção de presente pro dia das mães. Quando descobri que Bacharach trabalhara pessoalmente com Keating, senti mais confiança no material, o qual ouviria de qualquer modo. Desde que não se descaracterize a “sonoridade Burt”, estou aberto a releituras do Mestre. E, com Burt trabalhando na produção, sua marca registrada não corria risco. É, quando se trata do Mestre, sou fastidioso!

When Ronan Met Burt não é a melhor coleção de regravações de Bacharach, mas também não é pra se desprezar. A voz de Keating é meio espremida, meio buzinada às vezes, então dá saudades de Dione Warwick em momentos como Walk On By. Mas, como resistir à orquestração luxuriante, às cornetinhas características do Burt e a versos deliciosos como “what do you catch when you kiss a girl?/you get enough germs to catch pneumonia/after you do, she’ll never phone ya”? A simpatia das interpretações e o genuíno esforço em fazer jus ao material tornam o álbum muito gostável.
E eu me peguei cantando baixinho Arthur’s Theme inteira na sala de espera dum médico, de olhos fechados, sonhando em caminhar por Nova York. Quando abri os olhos no fim da canção, olhei pro lado e recebi parabéns da vizinha de sofá! Sorri envergonhado e agradeci...
My Little Red Book ficou absolutamente deliciosa. Me dá uma vontade danada de ver algum episódio de Mary Tyler Moore. O seriado anos 70 não tem dedo de Burt, mas a canção-tema lembra um pouco o refrão de My Little... Associações...

Como não respeitar Ronan Keating depois de ouvir I Just Don’t Know What To Do With Myself? Ele desacelerou ainda mais o clássico originalmente interpretado por Dusty Springfield e, a despeito da voz meio estridente, imprimiu uma possibilidade nova de leitura pra canção. A produção só podia ter dispensado aqueles backing vocals xinfrins.
Como Traincha fizera em 2007, Keating se deu conta de que não poderia deixar de lado a esplendorosa colaboração de Bacharach com Elvis Costello. Do álbum Painted From Memory (1998), o irlandês escolheu This House is Empty Now, com sua impressionante letra doída que oscila entre o registro fotográfico de objetos e versos impressionistas como “it’s funny how the memory will bring you so close then make you disappear/meanwhile all the friends must choose who they will favor, who they will lose”. Opção perigosa porque é uma canção muito intensa e também uma volta à forma de Bacharach, que não compunha melodias tão marcantes havia umas 2 décadas. Falta dor na interpretação. Basta ouvir a interpretação de Costello e você entenderá a diferença de estatura entre os 2 cantores.     
Numa época em que as vozes soam todas iguais pelo uso do Auto-Tune, Ronan Keating gravou ao vivo com a orquestra e apresenta às novas gerações um tesouro do cancioneiro popular mundial. Música com personalidade, que, se por momentos não consegue escapar totalmente da praga dos American Idols da vida, oferece um refresco aos ouvidos.  

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