terça-feira, 12 de novembro de 2013

TELINHA QUENTE 98

 

Roberto Rillo Bíscaro

Webséries e novelas existiam, mas em 1 de fevereiro a Netflix lançou os 13 episódios da primeira temporada de House of Cards e fez história. Produção milionária com atores classe A; baseada em mini noventista da BBC (tá no HD externo), que por sua vez calcara-se num livro; cercada de publicidade e expectativa.

Disseram que desnortearia críticos, acostumados a resenhar homeopaticamente, como os capítulos oferecidos ao telepúblico. Infundado: comento temporadas e mesmo séries inteiras faz tempo, sem estragar surpresas. Viu que instrutivo se críticos e o comentador lessem meu blog?

Prefiro ver temporadas completas. Poupa ansiedade semanal da espera pelo próximo episódio e tudo fica mais fresco na cachola. Não havendo longos e entediantes intervalos comerciais, melhor! Achei digna a inciativa da Netflix, e a conferi.

House of Cards começa como história de vingança e altas tramoias na capital estadunidense. Parte dum desalentador pressuposto que parece generalizado: política(o) não presta. Ao congressista Frank Underwood fora prometido o cargo de Secretário de Estado. Quando o Presidente dá pra trás, Francis inicia maligno e certeiro acerto de contas.

Underwoood é maquiavélico, prevê reações e movimentos dos antagonistas e as coisas se encaixam – malgrado contratempos pra dar suspense e longevidade à narrativa – melhor do que Lego. Admira o sujeito não ter usado todo esse poder pra conseguir o cargo que queria no começo, né?! Pra falar sobre Underwood, nada como ser cínico igual.

Diferentemente da vingança de Revenge, Frank Underwood – Kevin Spacey, brilhante, intimidador – não foi construído pra ser gostado como Emily Thorne (comigo não funciona, sou Grayson roxo!). Ele é desprezível, capaz de qualquer coisa pra conseguir o que quer. Como então não deu pra ser Secretário!?

A construção da personagem apoiou-se parcialmente num estereótipo desgastado. Quando declara que papai era zé-ninguém e mami a força mo(a)triz, pensei: “pai ausente, mãe dominadora? Beesha!” Não deu outra, quando num episódio – moroso – em que a trama desacelera pra se reconfigurar, ele confessa antiga atração por colega de academia militar. Bicha enrustida, mas elas existem e podem mesmo ser perversas, fazer o quê? (espírito suíno, entreguei uma pseudo-surpresa!)

A série utiliza recurso teatral desacreditado há décadas pelo Naturalismo: o aparte. Underwood mostra seu lado mais perverso e “verdadeiro” em falas direcionadas ao público, enquanto a ação congela-se momentaneamente. Isso dispensa um narrador onisciente – mimetizando o mundo sem Deus da personagem.

Frank é casado, mas nunca aparece em situação sexualizada com Claire, a chiquetéria Robin Wright, miraculosa num papel bem menos desenvolvido do que o de Spacey. Uma das tantas boas sacadas de House é que Claire preside uma ONG. Agora diga: como uma ONG pode ser não-governamental estando tão próxima do Capitólio?
House of Cards finge evitar o tom bombástico de soap da outra trama política de sucesso no momento, Scandal. Até o clímax da temporada é discreto. Como amo novelão espalhafatoso, sou mais Scandal, mas House of Cards é inteligente e pretendo ver a segunda temporada.

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