segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CAIXA DE MÚSICA 110

Roberto Rillo Bíscaro

Na mocidade, passava horas em lojas de discos; onde descobria coisas novas e contatava gente com gostos semelhantes, que se tornavam amigos.
Em Penápolis, havia a Jaó Discos e Fitas, ponto de encontro de boa parte da moçada local. Jaó e a esposa Judith nos aguentavam lá quase diariamente, pentelhando, fuçando. Era comum nos anos 80 a gravação de fitas. A pessoa ia à loja, selecionava faixas de diferentes álbuns – ou algum disco inteiro – e depois curtia a seleção desejada no carro ou alhures. Sem saber, vivíamos o ocaso do LP, mesmo que o CD estivesse galopando em nossa direção.
Pra conhecer melhor o período da supremacia e as causas da decadência do formato álbum, assisti a When Albuns Ruled the World (2013), da BBC. Centrado no contexto anglo-norte-americano, o documentário comenta sobre álbuns fundamentais dos anos 60 e 70, além de dar espaço às capas e à arte gráfica, componentes fundamentais do fetiche pelo bolachão de vinil.
O disco de 33 RPMs, que comporta mais de 40 minutos de gravação, foi criado no fim da década de 1940 e durante anos foi veículo pra música erudita e trilhas sonoras de musicais. A juventude, que curtia rock/pop, consumia mais compactos com os grandes sucessos. A indústria fonográfica era voltada pra produção de singles, canções projetadas pras paradas de sucesso; o resto dos álbuns era recheado de fillers, que, como indica o termo, era pra preencher o espaço.

O uso do formato LP como veículo de ideias mais consistentes pra música jovem nasceu nos EUA, com artistas como Bob Dylan, enchendo os 2 lados de mensagens de protesto e conscientização política.
1967 marcou o lançamento do fundamental Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, que levou o rock definitivamente ao estatuto de arte. A importância da obra é tão imensa, que basta dizer que os meninos de Liverpool – assistidos pelo produtor George Martin – inventaram uma nova sonoridade, escancararam as portas da percepção pra experimentações mil em estúdio, inventaram o conceito de metabanda e conceitualizaram a capa.
Auxiliados pelas novas estações FM – que executavam não apenas os singles e estavam abertas a faixas mais alternativas – o álbum de 33 RPMs adentrou os anos 1970 como o produto cultural mais lucrativo.
A importância e divulgação dos LPs foram tão marcantes e um fenômeno tão rock, que esse gênero influenciou artisticamente soulmen como Marvin Gaye e jazzmen, como Miles Davis, que inventou o jazz-rock. 
When Albuns Ruled the World pincela exemplos significativos dessa primazia, como os álbuns introspectivos da galera de Los Angeles, como Joni Mitchell (tratei desse assunto aqui); o caso de Tubular Bells (1973), álbum do então desconhecido Mike Oldfield, que sozinho catapultou a Virgin Records ao status de império; a minúcia progressiva de bandas como Pink Floyd e Yes, que acabaram se enroscando na própria grandiloquência e pavimentando o caminho pra escarrada punk de 1977.
E como é dialeticamente irônico acordar pro fato de que o manifesto em 3 acordes Never Mind the Bollocks (1977), dos Sex Pistols é tão conceitual quanto o exagero execrado do conceitual Tales from Topographic Oceans (1973), do Yes.
Sabia que existe estreita relação entre a crise setentista do petróleo e a proliferação de álbuns ao vivo e greatest hits/best ofs? Aprenda vendo o documentário no You Tube, em inglês sem legendas. 

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