quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A MORTE DA BARBIE



A influente dramaturgia naturalista apoiava-se numa contradição complicada: por um lado tentava seguir as regras estritas do drama, com sua aspiração a personagens livres, capazes de ação sem intercessão de elemento externo ou extra-humano. Por outro, comungava com o naturalismo literário e as ciências naturais a noção de homem como produto do meio e da genética.

Talvez o expoente mor dessa corrente teatral tenha sido o norueguês Henrik Ibsen, que apesar de fases Românticas e flertes com a tragédia, imortalizou-se com peças de cunho social, que a despeito de criticadas por certa disjunção entre forma e tema – elemento que as torna fascinantes, seja dito – escandalizaram; mas influenciaram exército de dramaturgos e roteiristas ao redor do globo ao longo de décadas.

A visita ao apartamento do dramaturgo em Oslo, em julho, me deu coceirinha de Ibsen. Pesquisei no You Tube e encontrei 2 teleteatros espanhois de Casa de Bonecas. 

Estreada na Dinamarca, em 1879, a peça já foi chamada de progenitora do feminismo e ganhou farpas do misógino August Strindberg.

Nora e Turvald são o típico casal pequeno-burugês, que tem de viver na economia até o marido conseguir promoção no banco. Mas, Nora não tem tempo de desfrutar da sonhada abundância, porque um funcionário despedido aparece pra chantageá-la. Turvald adoecera há alguns anos e a recomendação médica fora uma temporada no cálido sul europeu. A esposa falsificou a assinatura do pai moribundo pra garantir o empréstimo propiciador da viagem. Embora o macho fosse o provedor, ele jamais se importou em saber como conseguiram a grana, a qual Nora devolvia mediante pequenos trabalhos feitos pelas costas de Turvald.

Tratada como boneca descerebrada pelo marido, Nora vê-se num dilema: Turvald a perdoaria se soubesse que ela o enganara, e mais, que fora a fêmea quem obtivera o dinheiro e agora sujava a honra da casa labutando?

Em plena forma na defesa de causas sociais, Ibsen esmerilha na carpintaria dramática, concentrando toda a ação num curto espaço de tempo (tragédia grega, oiiiiii!) e caracteristicamente fazendo com que uma brutal alteração mental aconteça de súbito. Mesmo se questionando essa mudança de hora pra outra numa situação socialmente engendrada, como resistir quando Nora bate a porta? Casa de Bonecas é clássico, ponto.

As 2 adaptações estão boas, mas a de 2002 é a que recomendo “de com força”. Algumas soluções cênicas, como vestir Nora de homem na festa a fantasia que antecede seu abrir de olhos são achados. Também gostei de algumas apimentadinhas no diálogo, mostrando que o maridão via a mulher como objeto sexual; isso sem vulgarizar ou “modernizar” demais o texto.

 

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