segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

RELATÓRIO DA CRUZ VERMELHA - I

A Cruz Vermelha Internacional divulgou um relatório a respeito da situação dos albinos na Tanzânia e no Burundi. O relatório traz histórias pessoais e sugestões de ações a serem tomadas pelos governos.

Sei que tenho publicado muita coisa a respeito da crise na África e corro o risco de pecar por excesso. Entretanto, o documento da Cruz Vermelha é consequente demais pra eu deixar de traduzir pelo menos as partes mais significativas. Nos próximos dias, publicarei trechos do relatório gradativamente.

INTRODUÇÃO

Os assassinatos de albinos devido ao ocultismo, que têm ocorrido em partes do Burundi e em diversas regiões do noroeste da Tanzânia – na área entre os lagos Tanganica e Vitória -, foram trazidos à luz primeiramente por jornalistas; inicialmente africanos e posteriormente pela mídia mundial. Em outubro de 2009, em uma cerimônia em Estocolmo, o jornalista tanzaniano Richard Mgamba recebeu o prêmio jornalístico Lorenzo Natali para a África, pela sua cobertura da emergência com os albinos na região dos Grandes Lagos. A atenção fora da África para o sofrimento dos albinos provavelmente foi despertada de maneira mais contundente pela chefe do escritório da BBC em Dar es Salaam. Correndo risco de morte, a tanzaniana Vicky Ntetema produziu matérias a respeito do tema, infiltrada entre a população local. Mais recentemente, a história foi mostrada no programa 20/20, da rede de TV norte-americana ABC.

Enquanto este relatório era escrito, uma trégua de três meses nos assassinatos de albinos na Tanzânia foi quebrada pelo brutal ataque a uma família no distrito de Geita, na região de Mwanza. Gasper Elikana, um menino de 10 anos, foi morto por caçadores em 21 de outubro. O garoto teve uma perna decepada em frente à sua família, após ter sido decapitado para que parasse de gritar. Seus vizinhos e seu pai negro – que acabou no hospital, lutando pela própria vida – tentaram corajosamente protegê-lo, sem sucesso.

O último assassinato conhecido de um albino ocorrera em 18 de julho e toda a Tanzânia esperava que as ações rígidas tomadas - que incluíram a sentença de três caçadores de albinos da região de Shinyanga, condenados pela morte do estudante de 13 anos Matatizo Dunia – tivesse colocado um ponto final aos assassinatos. A notícia da morte de Gasper desanimou a nação.

O número oficial de mortes até agora é de 44 albinos na Tanzânia e 12 nas províncias orientais do Burundi, próximas à fronteira com a Tanzânia. Essa cifra na Tanzânia é o número dado pela polícia ao comitê parlamentar especial investigando os assassinatos. Organizações privadas e alguns órgãos da mídia tanzaniana afirmam que há mais de 50 mortes. Os burundianos – não menos chocados do que seus vizinhos tanzanianos – acreditam que o mercado de partes de corpos de albinos existe principalmente, se não somente, na Tanzânia. Esse mercado é gerado por ricos compradores que usam as partes do corpo como talismãs pata atrair sorte e, sobretudo, riqueza. Altos oficiais da polícia de Dar es Salaam afirmaram que um conjunto completo de partes de corpos de albinos – incluindo os 4 membros, os genitais, orelhas, língua e nariz – podia alcançar preço equivalente a 75.000 dólares.

Após seu início, em 2007, os assassinatos rapidamente deflagraram uma crise humanitária de pequena escala em ambos os países, deixando cerca de 300 jovens albinos abandonados ou confinados em escolas tanzanianas para deficientes, como a escola Kabanga (49 albinos), em Kasulu, região de Kigoma ou a escola Mitindo (103 albinos) em Misungwi, região de Mwanza- m dos centros da matança e das práticas de feitiçaria por trás dela. Há também abrigos de emergência no Burundi, onde muitos permanecem muito depois do último assassinato, em 14 de março. Naquele país – minúsculo, se comparado com o território da Tanzânia, que é igual à França e à Alemanha juntas – a polícia pôde agrupar os albinos em locais urbanos seguros, guardados 24 horas por dia, até hoje. Um número indeterminado de albinos tanzanianos também se agrupou perto de delegacias de polícias e igrejas ou estão simplesmente se escondendo em seus quintais, segundo as palavras de um funcionário da Cruz Vermelha. É impossível estimar-se o número de albinos que abandonaram seus locais de origem. Certo é que milhares – provavelmente a esmagadora maioria da população total de albinos, qualquer que seja o seu número – já não são mais capazes de se moverem livremente para trabalhar, estudar ou cuidar de sua terra, devido ao medo dos caçadores. Na verdade, suas vidas estão em compasso de espera. Em meados de setembro de 2009, crianças albinasaterrorizadas continuavam chegando na escola Kabanga. A mais recente na escola, Enus Abel, de 7 anos, passou 2 semanas escondida na mata com sua mãe negra, depois que caçadores apareceram em sua aldeia. Elas finalmente conseguiram alcançar a escola no dia 13 de setembro.


O relatório no original em inglês, com todas as fotos e mapas, pode ser encontrado em
http://www.ifrc.org/meetings/statutory/ga/ga09/Reports/AlbinoPDF4.pdf

(Viajemos pros anos 80 com o RPM...)

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