quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CHABROL BROCHANTE

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Roberto Rillo Bíscaro

Um filme-homenagem a um mundialmente famoso escritor belga de histórias de detetive, dirigido por um dos fundadores da Nouvelle Vague, estrelado por um dos melhores atores franceses, atuando pela primeira vez sob a batuta do conceituado diretor. Combinação perfeita pros sonhos de qualquer admirador de bom cine, não? Exato

Entretanto, ao final de Bellamy (2009) resta um travo de decepção e a impressão de que uma eletrizante oportunidade foi perdida. Bellamy, a personagem central, é uma espécie de homenagem ao Comissário Maigret, célebre desvendador de crimes, criado pelo escritor belga Georges Simenon. Juntamente com Hercule Poirot e Sherlock Holmes, Maigret constitui-se no supra-sumo pros fãs de histórias de detetives.

O filme foi dirigido por um dos fundadores da Nouvelle Vague, Claude Chabrol, especialista em dissecar as podridões e segredos espúrios de famílias burguesas em filmes de suspense. Na ativa desde a década de 50, o diretor ainda produz grandes filmes, vejam, por exemplo, o excelente La Fleur Du Mal (2003) e/ou o seu sucessor La Demoiselle d'Honneur (2004).

O inspetor Bellamy é interpretado por ninguém menos do que Gerard Depardieu. Adoro o Depá! Com aquela cara e narigão não galânicos dele, ele ganhou o mundo. Claro que também é excelente ator e pra mim foi a melhor coisa em Bellamy, o filme. Uma interpretação descontraída, a gente quase consegue gostar de Bellamy, a personagem... Se o filme não fosse tão monótono, o inspetor poderia ser um filé mignon prum ator do porte de Depardieu.

O inspetor Paul Bellamy e sua amada esposa estão em férias numa cidade pequena quando o detetive é contatado por um homem que diz ter importantes informações a respeito do desaparecimento recente de Emile Leullet, envolvido num acidente de carro objetivando fraudar a empresa de seguros, que culmina com a morte de alguém. Belamy não acredita nessa primeira versão e sai interrogando pessoas e – facilmente demais pro meu gosto! – desvenda o caso antes da polícia, mas sempre por trás dos panos.

Pra complicar a trama, temos a história paralela do irmão de Belamy, alcoólatra e viciado em jogo. Ele vem passar uma temporada na casa de férias do casal parisiense e somos testemunha de todos os ressentimentos entre os 2 homens, desde uma tentativa de assassinato quando crianças, até suspeita de adultério durante a visita.

Narrativamente, o irmão complicador serve como elemento que joga dúvidas e complexidade à personagem de Bellamy. A cena em que o detetive desconfia da fidelidade de sua esposa representa cenicamente o equivalente à afirmação que aparece escrita no fim do filme, a respeito de sempre haver outra verdade além da que vemos. Sabe aquela coisa “as aparências enganam”? Novidade, né? Mas, Chabrol ainda é Chabrol e MOSTRA isso repetidas vezes ao longo da narrativa fílmica. Enfim, um Chabrol menor ainda vale mais do que 90% que passa por aí... Eu dispesnaria o pós-escrito sobre as aparências enganosas, porém. Já dava pra entender pela narrativa do filme.

O destino dado ao irmão de Bellamy garante um fim circular ao filme, ou seja, o desfecho da personagem vai nos remeter ao ponto desencadeador da narrativa, possivelmente fazendo com que olhemos pra ela de outro modo, questionando-a e também imaginando que a narrativa explicativa que se seguirá após à conclusão do destino do irmão de Bellamy, certamente levará também a jogo de espelhos do qual acabáramos de ser testemunhas.

Quem teve saco pra ler até aqui deve estar se perguntando: mas o que que esse branquelo tem contra o filme, afinal? Parece ser um ótimo filme!

Então, gentem, mas não é, porque é um Claude Chabrol!!! Ele pode e sabe fazer melhor do que isso. O filme nunca realmente decola, entende? A gente caba não se importando muito com nenhuma das tramas porque as personagens acabam não sendo muito aprofundadas.

Alguns irão reclamar do oportunismo de se ter a mulher do inspetor como nativa da cidadezinha, e que, mesmo fora de lá, ainda conhece todo mundo! Ou da vendedora da loja onde o inspetor comprar madeira estar envolvida na história. Bobagem de quem não entende as convenções dum determinado tipo de romance policial. Se você não aceita essas convenções, vá fazer palavras cruzadas. Ou, se quer algo mais “real”, vá ser voluntário nalguma instituição de caridade!

O grande problema do filme é justamente certa frieza ou morneza que impede que os elementos poderosos ali reunidos funcionem bem.

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