quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A PEQUENA ORFÃ “RUSSA”

Chove sem parar desde manhãzinha em Penápolis. O dia está super-preguiçoso e eu de férias, sem vontade de fazer nada, após ter concluído uma tradução que apareceu ontem e ontem mesmo foi feita. Nada melhor do que ver filme em dia assim. Por isso, decidi ver Orphan (2009), thriller co-produzido por EUA, Alemanha e Canadá.

O filme é sobre uma garota malvada, muito perversa mesmo. Filmes de horror e suspense com crianças não são novidade. Basta lembrar de The Good Son (1993), com Macualey Culkin; The Bad Seed (1956); Village of the Damned (1963), com meu amado George Sanders; Bloody Birthday (1981); The Innocents (1961), estupenda adaptação da novela The Turn of the Screw, de Henry James e o infelizmente pouco conhecido Quien Puede Matar a um Niño?, produção espanhola de 1976. Digo infelizmente porque depois veio o norte-americano Stephen King, que lançou o seu The Children of the Corn e ficou com a fama de “original”. Aliás, isso acontece com muita freqüência porque tem gente que só vê filme norte-americano...

Como crianças são imaginadas como inocentes, indefesas e amorosas, não deixa de ser assustador quando algo dá “errado” e se tornam malvadas, talvez daí a recorrência desse tema.

Orphan é a história dum casal de classe média alta que decide adotar uma órfã russa extremamente educada, inteligente e pálida (palidez sempre “funciona” pra caracterizar vilões; nós albinos que o digamos!). No começo, a garota é um anjo de candura, mas, aos poucos, ocorrências suspeitas começam a acontecer e são percebidas apenas pela mãe adotiva e seus outros dois filhos. O pai não percebe nada e nem acredita na esposa, a qual tem uma história pregressa de alcoolismo e perdera um filho no parto. Isso funciona narrativamente pra que a personagem demore a levar crédito por suas suspeitas. Além disso, todos sabemos que mulheres e crianças são mais “sensíveis” que nós, brutos homens, não???

O roteiro é redondíssimo; as mudanças na trama, que marcam a passagem dos atos (pra quem não sabe, filmes são divididos em atos, geralmente 3), quase gritam na tela, mostrando o arcabouço da escrita dramática como se fora raio X! Na passagem do segundo pro terceiro ato, há uma reviravolta na trama (plot twist, em inglês) que me fez gargalhar porque nem eu esperava a explicação dada pro comportamento da garotinha estrangeira. Se eu falar qual é, perde a graça, mas dá certo ar de originalidade a um filme, que de resto, nada tem de.

Em tempos de imigração como tema candente em países europeus e nos EUA (decerto também no Canadá...) e levando-se em conta o forte subtexto moralista e moralizante das narrativas de terror (quem duvidar disso, que (re)veja Scream (1996), do Wes Craven, que coloca a nu porque tal e tal personagem nesses filmes merece morrer), difícil deixar passar a nacionalidade da diabinha.

No fundo, Orphan funciona como advertência velada (?): cuidado com quem você coloca no seio de sua família, especialmente se for uma imigrante, ainda por cima, russa!! Eles podem ser inteligentes, educados e até brancos (demais, nesse caso), mas são irremediavelmente o Outro, por isso não é bom confiar muito neles...

(Deu vontade de ver e ouvir Shelleyan Orphan, subestimada dupla britânica dos anos 80.)

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