quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

PAPAI SABE NADA

Agora que as férias estão batendo à minha porta tenho tempo não apenas pra ouvir mais música e ver mais filmes, mas também pra escrever sobre esses temas. Aos leitores mais recentes, aviso que isso sempre fez parte da política do blog. Além de coligir informação a respeito do albinismo, quero criar um espaço diversificado, afinal, pessoas com albinismo também assistem a filmes, ouvem música etc.

Ontem vi Padre Nuestro (2006), produção chilena com a argentina Cecília Roth no elenco. O enredo trata de 3 filhos que visitam o pai moribundo, desejoso de reatar relações com a família, a qual abandonara por outra mulher (pra qual também não dava muita bola...) e é literalmente expelida dos últimos momentos de vida do ancião e da narrativa.

O filme padece de falta de foco. Não se decide se é drama ou comédia agridoce. Não se decide de quem é o ponto de vista dominante. Vários problemas e promessas temáticas são apresentados, mas nada é realmente desenvolvido.

Algumas cenas são constrangedoras, como a fuga do hospital: um dos filhos cobre o pai com um lençol e abaixa-se enquanto empurra a cadeira de rodas a fim de que a plantonista não os veja. Se a idéia foi fazer humor à moda de certos filmes independentes norte-americanos, falhou miseravelmente. E o que dizer duma cena emocionalmente carregada, onde as personagens se agridem, revelam segredos, levantam-se, sentam-se, choram, tudo isso em um restaurante!

Há um filme com o Jack Lemmon chamado Tribute (1980), que apresenta um pai às turras com o filho, que não compreende o modo de vida libertário do progenitor. Caco, o ancião de Padre Nuestro, me lembrou a personagem de Lemmon. Entretanto, no filme norte-americano, Scottie Templeton apresenta diversas qualidades redentoras que fazem o espectador empatizar com ele, que, aliás, tem leucemia. O pai chileno não foi construído assim. Ele ri, faz gracejos, vai a um bordel, enfim, faz tudo que uma personagem que teve uma vida “irresponsável” faz. Mas, não tem qualidade redentora alguma! O velho Caco bem pode ter sido um completo idiota, só isso. Como empatizar com uma personagem assim? Eu não consegui...

E o que dizer de alguém terminalmente doente, que sai, rouba ambulância, bebe, vai a bordel, dança, canta e finalmente cai estatelado na praia, exatamente onde queria morrer? Inverossímil de doer! Morre cercado pela família que durante a vida parece ter desprezado sem explicar ao público as motivações de tal desatenção. A ex-mulher traída – que passa parte do filme dizendo que não iria ao encontro do ex e depois inexplicavelmente aparece no carro a caminho da praia! – está ao lado de Caco, ao passo que a atual havia sido excluída da narrativa há tempos. Terei que concluir que no fim das contas existe uma tremenda mensagem conservadora mal escondida nessa história cheia de inconsistências, buracos e incertezas? A segunda mulher também se queixara de Caco. Por ser a segunda, não merece estar junto da família na morte do companheiro? Punição por ter contribuído pra infidelidade de Caco? Infidelidade nunca é unilateral, então porque o homem consegue o intento de morrer junto da família e a segunda esposa fica apartada?

Li que o filme recebeu prêmio de melhor roteiro num festival por aí! Nem quero imaginar os demais roteiros contra os quais competiu!!

(Vamos voltar pra 1987 e relembrar George Michael, cantando Father Figure?)

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