terça-feira, 15 de agosto de 2017

TELINHA QUENTE 272


Roberto Rillo Bíscaro

Forbrydelsen abriu o caminho pra popularização do Nordic Noir na TV inglesa, mas foi A Ponte que eletrizou o subgênero. Desde 2007, Inglaterra, EUA, França, Espanha, Nova Zelândia têm produzido thrillers com forte gosto escandinavo. O Reino Unido é o que tem se inspirado mais e melhor nos suecos e dinamarqueses. Shetland, Broadchurch, Y Gwill são policiais imperdíveis pra quem curte histórias e ambientação deprês. Fortitude trouxe até Sofie Gråbøl pro elenco, além de se passar numa fictícia base polar norueguesa. O amor britânico por tudo Scandi não arrefeceu em 2016. A ITV contratou Hans Rosenfeldt – o criador de BronIBroen – pra conceber e escrever os 8 capítulos de Marcella, exibidos a partir de abril e ora disponíveis na Netflix.
Marcella Backland é uma ex-policial atordoada, porque seu marido acaba de abandoná-la. Justamente então, um colega a procura pra informar-se sobre assassinatos em série, que a detetive-sargento investigara. Suspeita-se que o maníaco está atuando novamente. Ainda obcecada pelo caso não-resolvido e desesperada pra preencher seu tempo e cabeça, Marcella pede seu emprego de volta e mergulha num mundo de prostituição online, falcatruas corporativas, traição extraconjugal e psicopatia. Há um agravante, porém: ela vem experimentando episódios de amnésia, então, às vezes ficamos na dúvida de se alguns dos malfeitos não foram cometidos por ela mesma. Isso a liga com a já clássica Saga Norén, de The Bridge, e seu possível Asperger jamais mencionado. Mas física e indumentariamente, Marcella é parente de Sarah Lund, de Forbrydelsen. A atriz Anna Friel está meio caracterizada como sua colega dinamarquesa, até mesmo num casaco que sempre veste, que aliás, me lembrou o usado por uma detetive francesa da chinfrim Virage Nord (2015), outra cria do Nordic Noir.
Como no caso dos problemáticos Norén e John River, a tarefa primeira é acreditar que a polícia inglesa aceite a DS Backland de volta, sem recapacitação ou avaliação físico-psicológica, só porque ela pede. Numa cena ela diz que quer retornar e na próxima já está com os novos colegas, uns 15 minutos primeiro capítulo adentro. Mas, sem suspensão da descrença praticamente não assistiríamos a nada. 
Em Marcella, Rosenfeldt usa a mesma técnica de apresentar subtramas aparentemente do nada, como em BronIBroen. Ficamos desorientados, mas logo entendemos ou supomos a conexão. No caso desta série, isso liga-se à própria desintegração da personalidade da detetive, então o embaralhamento é bastante interessante. Não se trata de nada muito complexo; o show é bem assistível. Só há que ter paciência, porque os procedimentos são meio lentos.
Fãs de The Bridge não deixarão de comparar as 2 séries, então é bom avisar que aquele padrão de excelência não é alcançado e algumas das subtramas não são resolvidas a contento. Marcella nunca atinge as alturas da produção sueco-dinamarquesa, mas também é importante lembrar que o mundo de Saga Norén é ponto fora da curva.

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