segunda-feira, 28 de agosto de 2017

CAIXA DE MÚSICA 280


Roberto Rillo Bíscaro

Foster significa fomentar, induzir, encorajar, estimular; portanto, a noção por trás do nome do quarteto Foster The People é muito bonita: desabrochar o melhor nas pessoas. A ideia inicial, todavia, foi chamar o combo de Foster & The People, porque quem o fundou foi Mark Foster, em 2009, depois de alguns anos servindo mesas, se drogando e fazendo jingles em Los Angeles. Erro de interpretação/digitação de algum produtor de show e os norte-americanos passaram dum nome egocêntrico, prum mais inclusivo.
O Foster The People é da geração que explodiu devido a um vídeo divulgado na internet, em 2010, que atraiu a atenção de enormes conglomerados musicais. Imaginem quantos aspirantes ao superestrelato têm subido vídeos ao Youtube e símiles, então, não gasto meu tempo seguindo tais novidades. Mas, passando os olhos pelo email semanal de lançamentos do All Music Guide, o terceiro álbum dos rapazes, Sacred Hearts Club, captou meu interesse. Bem legal a indietronica neopsicodélica de boa parte da dúzia de faixas do LP, lançado dia 21 de julho.
A grande sacada de Sacred Hearts Club é seu poder de juntar tribos que a princípio pertencem a umas 6 décadas. Claro que isso resulta em certa perda de foco e não se pode agradar tantas gerações ao mesmo tempo o tempo todo, mas o LP tem apelo pra fãs de Maroon 5 a Daryl Hall, como em Doing It For The Money; pras viagens retro-eletro-oitentistas do M83, como na encerradora III ou pra tchaptchurice ingênua setentista de I Love My Friends.
Static Space Lover dá vontade de sair dançando por entre plantações de tulipa e satisfará fãs do Tears for Fears, fase Seeds Of Love. Isto posto, deve-se intuir que os anos 1960 carregam importante peso nesse mix. Os Beach Boys imperam como inspiração pra ricas e mimosas harmonias. Em Lotus Eater essa influência vem mais safada, porque misturada com a inspiração guitarreira assanhada dos libidinosos The Hives. E a mente do resenhista 50tão já fantasia Kylie Minogue cavalgando touros mecânicos em censuradas propagandas de lingerie... E quer coisa mais pós-moderna junta tribo do que usar o casal-referência punk numa EDM, como em Loyal Like Syd And Nancy? O problema é que duvido que se juntem; só curtirá mesmo quem estiver mais afeito à electronica.
A dúzia de faixas de Sacred Hearts Club não escapa dum par de fillers, mas além das delícias citadas ainda traz 2 canções memoráveis. A abertura Pay The Man usa ameaçadora base hip hop pra parir pop viciante, onde coisas acontecem o tempo todo no arranjo e o resenhista 50tão fantasia ouvir o espectro da groselha vitaminada Milani. SHC abre com ruidinhos eletrônicos, mas logo se transforma num aspirador de neurônios com sua melodia circular de guitarra digna do auge de Johnny Marr.  
Os bons momentos pop são inspirados e com uma limpezinha dum par de canções e vinhetas, o terceiro longa do Foster The People é uma delícia. 

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