quinta-feira, 3 de agosto de 2017

TELONA QUENTE 196

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Roberto Rillo Bíscaro

Embora não seja a única instituição onde abusos sexuais aconteçam, a Igreja Católica é infame pela recorrência e impunidade de pedofilia e efebofilia. O escândalo e ultraje provocados por denúncias de abuso clerical soam mais sujas, porque esses “pastores” deveriam zelar pelo bem-estar espiritual de seus cordeiros e não comê-los.
No Chile, nos anos 2000, irrompeu escândalo envolvendo o padre Fernando Karadima, dirigente da paróquia de El Bosque, queridinho da tradicional família pinocheteana chilena. Em 2004, ex-seminaristas e membros da rica congregação começaram a denunciar o contínuo e serial assédio sexual e moral infligido pelo religioso em inúmeros jovens, entre as décadas de 80 a 2000.   
Em 2015, o diretor Matias Lira dirigiu El Bosque de Karadima, a partir de roteiro de Elisa Eliash, Alicia Scherson e Álvaro Díaz. Sucesso de bilheteria em seu país natal, o filme transformou-se em minissérie em 3 capítulos na Chilevisión, onde teve suplementação de hora e meia de material. A julgar pela perturbadora versão cinematográfica que a Netflix brasileira disponibiliza em seu catálogo, dá muita vontade de ver essa mini.
El Bosque de Karadima é narrado de forma justaposta por uma personagem ficcional, baseada nos depoimentos das verdadeiras vítimas. Thomas Leyton é esse compósito: jovem totalmente inseguro, sozinho no universo, que deposita toda confiança em Karadima, que ainda por cima, desfruta de fama de santidade. Adotando o ponto de vista do abusado, um dos trunfos do roteiro é realçar a dificuldade do oprimido em reconhecer-se como tal e, mesmo ao fazê-lo, em decidir quebrar o vicioso ciclo de abusos. E é justamente esse trunfo que deixa El Bosque de Karadima um filme necessário, mas nem sempre fácil de assistir. Benjamin Vicuña está excelente no papel do abusado Tomi, que ao mesmo tempo que sente repulsa por ser sodomizado enquanto sua esposa e filhos o esperam no hall, também sente carinho por Fernando, que pelo menos, era o único que lhe ouvia na juventude.
Poder-se-ia reclamar que a esposa de Leyton é meio tolinha por não haver desconfiado de nada depois do pintoso dialogo que tem com Fernando e de literalmente pegá-lo se esfregando com um jovem secretário. Também deve se supor que o padre tenha psicologia mais complexa do que a de um simples (mas condenável, claro) velho safado. Mas isso é opção do ponto de vista do roteiro e provavelmente também porque há mais dados dos abusados do que do pároco, blindado pela Igreja.
Sem escorregar pro sensacionalismo e com premiada atuação de Luis Gnecco, como Fernando, El Bosque de Karadima é excelente e dolorido exemplo de como o abuso de autoridade destrói vidas.

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