quinta-feira, 17 de agosto de 2017

TELONA QUENTE 198


Roberto Rillo Bíscaro

Há não muito, insistia pela enésima vez na importância de prestigiarmos produções estreladas por veteranos, as quais este blog é pródigo em divulgar. Meu argumento ingênuo é que se houver público pra tramas inteligentes na terceira-idade, mais filmes e séries de boa qualidade com tais protagonistas serão realizados. Será que se boicotarmos produções que insistam nos estereótipos imbecis pra idosos, elevamos sua idade mental ou condenaríamos esses atores à falta de trabalho até mesmo em papeis idiotas?
Isso passou pela cabeça, enquanto via o tóxico Um Amor de Vizinha, título boboca pra And So It Goes (2014), do roteirista Mark Andrus, o mesmo de As Good As It Gets, aquele estrelado há vinte anos por um já idoso Jack Nicholson mal-humorado, acordando pra vida e pra tolerância. No caso de And So It Goes, a picaretagem roteirística é contar a mesma história, protagonizada por Michael Douglas.
Oren é intragável corretor de imóveis, que vive num modesto complexo de apartamentos, enquanto tenta vender sua mansão. Rude com seus vizinhos afro-americanos, o rabugento ancião é surpreendido, quando seu filho ex-narcoadicto vai pra cadeia e lhe deixa a neta pra cuidar. O amargo viúvo sequer sabia da existência da menina, que logo cai nas graças da vizinha solitária e insegura, aspirante à cantora de cabaré. Precisa dizer o que o contato com a menina opera na psique empedrada de Douglas?
Em princípio não há nada de mais com Um Amor de Vizinha. Pelo contrário: é indicado pra tardes tediosas comendo pipoca, passando pilha de roupas, pra esquecer os problemas. Mas, o oportunismo e grosseria do roteiro são quase imperdoáveis pra atores experientes como Douglas e a tal vizinha, Diane Keaton, a eterna Noiva Nervosa, do Noivo Neurótico Woody Allen. Não há nuanças, é tudo jogado na cara do espectador de qualquer jeito, com a certeza de que o produto está sendo assistido como algo em série que é. Com a certeza de que se está vendo aquilo sem se prestar atenção, com conversa paralela, testando o vapor do ferro de passar. A ainda tem Keaton dando uma de cantora; acho que isso é o pior.
Poder-se-ia suspeitar de roteiro caça-níqueis com atores de cachê barato, sedentos por qualquer holofote, sendo filmado por diretorzinho estreante, mas nem essa desculpa há. And So It Goes é dirigido por Rob Reiner, de This Is Spinal Tap e Louca Obsessão (1990), cuja carreira também está na depressão da descendente. E aí está o resumão da ópera: várias carreiras que já renderam milhões de dólares agora precisam recorrer a tais veículos.
De vez em quando, uma Diane West consegue um papel melhor num In Treatment ou um velhusco como Douglas se reinventa como pianista biba (ele está ótimo como Liberace, vocês viram?). Mas, a regra hollywoodiana pra terceira-idade parece que são joças como Um Amor de Vizinha.
Tem na Netflix. 

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