terça-feira, 20 de junho de 2017

TELINHA QUENTE 264


Resultado de imagem para hinterland season 3
Roberto Rillo Bíscaro

AVISO: sugiro leitura prévia das resenhas das temporadas um e dois.

Em novembro de 2013, o País de Gales começou a deixar seu nome na TV mundial com Y Gwyll. Afil(h)iada ao/do Nordic Noir, a série virou sucesso cult vendido pra dezenas de países e adicionada à grade da Netflix. As 2 primeiras temporadas estão lá, mas não sei dos 8 capítulos da terceira, exibidos pela S4C, entre outubro e dezembro do ano passado.
O elenco tem sempre trabalho dobrado, porque tudo é gravado em galês e inglês. Até o título é duplo: a versão em inglês chama-se Hinterland (é assim que você encontrará no menu da Netflix). Prefiro ver na língua mais velha das Ilhas Britânicas, porque adiciona à cor local e acho curioso como inserem palavras anglófonas nos diálogos, exceto o DCI Tom Mathias, curiosamente um “forasteiro”, porque vivia em Londres e foi transferido pro interior de Gales. A aderência irrestrita ao idioma local talvez seja simbologia da sua tentativa de reenraizar-se.
As histórias são novamente divididas em 2 capítulos; a novidade fica por conta de uma investigação interna envolvendo o próprio Mathias e seus colegas, que se estende por todos os episódios, até dominar a narrativa no último. A qualidade dos roteiros permanece, mas não dá pra negar que as 2 primeiras histórias sejam um pouco precipitadas por causa dessa trama paralela maior, que de início nem interessa tanto, mas avoluma-se até se tornar típico Y Gwyll: caso arrepiantemente triste de desintegração familiar.
Um dos traços distintivos de Hinterland sempre foi atestar que os perpetradores geralmente têm histórias desoladoras, motivadoras dos crimes. Não que a série adote bandido de estimação, mas esclarece os caminhos de desespero condutores aos hediondos atos, cujos resultados muito frequentemente são exibidos de forma perigosamente estetizante, herdada do Nordic Noir. Deve-se gastar horas de produção e filmagem apenas prum cadáver teatralmente arranjado numa simulação de charco.
Espartanos em sorrisos e humor, DCI Mathias e DI Mared Rhys expressam fisionomicamente seu pesar por terem que prender quem cometeu barbáries pra se libertar ou alguém querido de relacionamentos abusivos, extorsivos e violentos. Richard Harrington e Mali Harries transmitem mundos apenas pelos olhares e pequenas contrações faciais.   
Hinterland - como seu congênere Celtic Noir, Shetland – é Romântico na ambientação: a natureza dialoga com o estado de espírito depressivo, anestesiado, triste, de todas as personagens. Mesmo quando há sol, todos estão encapotados, não há trégua para o vento frio galês. As vastidões solitárias do mar e das áreas rurais em tons ocres sob céus noturnos ou diurnos, porém carregadamente cinzas realçam a pequenez e soledade humanas. Nem o verde tem o poder de conotar esperança ou fertilidade, porque a frialdade, o desbotamento e às vezes o silêncio ou sua própria vastidão, tornam-no opressivo e estéril e não pujante. Perséfone nunca visita Gales Ocidental (será por isso que emigram em massa, ainda hoje?). Em seu lugar, deve ir seu marido... Cenicamente, Y Gwyll continua espetacular, pra ver no inverno melhor ainda: dá mais frio.  
A S4C ainda não anunciou quarta temporada e a terceira não deixa fios soltos. Será o fim de Y Gwyll? Se for, terminou por cima, mesmo sendo um show beeeem pra baixo.

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