segunda-feira, 12 de junho de 2017

CAIXA DE MÚSICA 269

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Roberto Rillo Bíscaro

Há que louvar a resiliência e longevidade de Debbie Harry e sua trupe. Quando a maioria das herdeiras diretas de Blondie está sepultada no alzaimer da memória coletiva cultural de massa, o grupo ainda tem forças pra pegar a estrada e lançar álbuns. Depois da escorregadela do LP duplo de 2014 (resenha aqui), os norte-americanos voltaram com Polinator, 11º trabalho de estúdio, lançado dia 5 de maio. 
Louvável a sede de renovação de Ghosts Of Download, mas o álbum falhou em produzir alguma faixa memorável. Polinator equilibra tradição sônica com pitadas de contemporaneidade na produção e canções escritas por queridinhos de agora, tipo Sia, cuja Best Day Ever não se encaixa na categoria memorável, mas interessa como constatação retroativa de como intérpretes como Siouxsie Sioux foram influenciadas por Debbie. No quesito lembráveis pra sempre, ouça a guitarra funkeada de Fun e veja se não dá vontade de sair desfilando pela Quinta Avenida; pura ferveção Blondie. O queridinho de outrora Johnny Marr prova que ainda consegue estruturar melodias soberbas e refrães circulares e grudentos, cheque My Monster, um dos ápices do play.  
A Nova York do Blondie é o berço da disco music, hip hop e do punk e o poder maior do grupo foi mastigar esses e outros elementos e cuspi-los como algo novo, sem blablablá chato-pedante-chiclete-bananeiro pra tentar dar originalidade a um traço essencial ao bom pop. Blondie ia lá e fazia, f***-se.
Polinator obviamente não tem o poder de criar outra revolução estilística, mas o pop canibal urgente que caracterizou o auge do grupo está presente, inclusive se autorreferenciando como em Long Time, que lembrará os mais antigos do clássico disco Heart Of Glass.  Já a abertura é rockão com Joan Jett e tudo. Em Gravity a voz pesadamente processada de Harry recebe petardos roqueiros da percussão e chuva de granizo fininho de electronica.
Nessa altura do campeonato é isso que se espera de Blondie: manter a tradição com laivos de (pós-)modernismos. Aos 71 anos, sejamos realistas, nem garantia há de próximo álbum, mas se Polinator for o derradeiro, é boa coda. 

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