terça-feira, 22 de dezembro de 2015

TELINHA QUENTE 191

Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado, fanáticos por Nordic Noir vimos nosso mundo cair com a notícia de que o ator Kim Bodnia não voltaria pra 3ª temporada de Bron III Broen. Não faltou quem previsse o apocalipse: como sobreviver sem o simpático Martin Rohde, contraponto pra lógica Asperger de Saga Norén? Alta expectativa pra exibição na Escandinávia, iniciada em setembro e no Reino Unido, começada em 21 de novembro. Quem tem que esperar legenda (confiável e “oficial”) em inglês teve que seguir a transmissão dos 10 episódios pela BBC, que acabou no último sábado.
Foi o que fiz, mas antes revi as 2 temporadas (resenhadas aqui e aqui), porque queria estar bem municiado pra analisar os caminhos adotados pelos roteiristas de Bron III Broen (BIIIB). Que show bom! Mesmo vendo pela segunda vez, teve noite que enfileirei 3 episódios duma vez, indo dormir às 2 da manhã. E me dei conta de que Martin não era tão diferente de Saga; a relação das 2 personagens é especular e projetiva.
Pra evitar agonizantes esperas, comecei BIIIB, uns 2 dias antes de a BBC exibir a dupla final, assim, quando terminasse o oitavo, o 9 e o 10 já estariam disponíveis. Acertada decisão, porque o negócio fica tenso. Mas, os defeitos de composição já começam a atingir a superfície.
BIIIB inicia com assassinatos elaborados, supondo crimes de homofobia. Como nas demais temporadas, o que pareciam declarações políticas tomam rumos inesperados com a adição de novos personagens e sub-tramas que aristotelicamente se conectam à central, mas requerem paciência. Descontando que o roteiro teve que ser reescrito meio às pressas devido à saída de Bodnia, dessa vez há um par de buracos-negros na lógica e na trama. A pessoa que cometeu os crimes teria que ser bem riquinha pra logística requerida. A argentina Epitáfios resolveu isso bem melhor na sua primeira temporada.
Seria o caso de apelar pra suspensão de descrédito, mas A Ponte já pede que aceitemos que alguém com Síndrome de Asperger seja detetive interativa com público (mesmo a polícia sueca afirmou que Saga jamais poderia desempenhar essa função) e que ninguém no departamento pareça sacar que ela é aspergeriana. Aliás, falam em ser “estranha”. Cadê a correção política escandinava? Assim, a trama policial de BIIIB é boa e prende, mas, não desce tão redonda mais.
Talvez também porque o foco na incrível personagem Saga Norén tenha se intensificado. Junto com o também sueco River, ela é uma das criações mais estelares da TV desta década. BIIIB é extremamente difícil pra Saga, atacada e confrontada em diversos setores. A ausência do único amigo, a volta da mãe detestável/detestada, problemas na chefatura. Difícil pra personagem e pro espectador, que a vê perdendo cada vez mais referenciais, mas um caldeirão lotado pra atriz Sofia Helin, que provavelmente não tem um segundo de má atuação. Rimos e choramos com ela, numa tour de force. Mas isso deve ser levado em conta: um show policial onde a parte pessoal desperta mais interesse que a investigação?
Como ninguém é insubstituível, Henrik, o novo parceiro, preenche a vaga de Martin, embora eu tenha sentido falta da risada de Bodnia. Essa temporada não tem nem sorriso! Henrik tem seus demônios e levei capítulos pra sacar um recurso concidentemente usado por outra ótima série deste ano. Não falarei qual pra não estragar a surpresa; mas não se trata de cópia, é sincronicidade mesmo. Afirmo isso não por xodó pela Escandinávia, mas, pelas datas de produção/exibição mesmo.
BIIIB é ótima e abre possibilidade pruma 4ª temporada com configurações bem diferentes, mas como Forbrydelsen e Borgen provaram, não seria melhor parar na terceira, quando ainda se está na dianteira, mas os primeiros tênues sinais de desgaste já podem ser detectados?

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