segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 196

The Clockwork Universe cover art
Roberto Rillo Bíscaro

Juro que de vez em quando não premedito milimétrica e maquiavelicamente meu “consumo” cultural. Claro que há um padrão de repetição e semi-obsessão nas postagens de música, cine e TV: divas negras, 80’s e progrock; cine de horror/sci fi e europeu; policiais noir de países escandinavos, sitcoms e séries “clássicas”.
Quando decidi comentar sobre The Clockwork Universe, lançado em setembro pelos ingleses do Thieves’ Kitchen (TK), não pensava em quebrar nenhum padrão, afinal, trata-se duma banda prog britânica e ser britânico ganha pontos neste blog. Mas, qual não foi minha surpresa ao descobrir que 2 membros do sueco Änglagård participaram das gravações e um terço do TK, o tecladista Thomas Johnson, era membro do grupo prog escandinavo. Desse modo, dá a impressão de que ao escrever sobre um trio binacional, deixei meu gosto nórdico falar mais alto também na seção de música. Nada; mera coincidência.
The Clockwork Universe já é o sexto álbum, mas como a classificação deles era prog eclético ou Neo Prog, nunca me animava a escutá-los. Fã de prog sinfônico, jamais consegui aceitar a “simplicidade” instrumental e a sonoridade de Pallas, IQ, Marillion e toda uma leva de bandas, que liquefaziam monumentos sinfônicos 70’s, mormente o Genesis. Como também por acaso li que o álbum estava bem complexo e pouco Neo Prog e dava pra ouvir grátis no Bandcamp, dei-lhes uma chance e não me arrependo.
É um trabalho muito bom, que em linhas gerais, combina elementos de bandas sinfônicas, como o Yes, com elementos jazzísticos da cena setentista de Canterbury, que, se não comercialmente tão bem sucedida, produziu combos ótimos, como Caravan, Camel, The Soft Machine e Hatfield and the North. O agradável é que o TK não soa como desfiguração de nenhum estilo; antes, combina elementos com suas próprias características pra produzir um som só deles.
Library Song abre o álbum com uma orgia de baixo, guitarra ótima de jazz e órgão nervoso; tudo muito bem executado, intrincado e com uma dinâmica fluída. Pena que o vocal de Amy Darby seja meio mortiço e dê a impressão de desconexão com o instrumental, resultando em estranheza negativa. A vocalista e a mixagem se redimem em Railway Time, onde a melodia é conduzida pela voz em mais de um trecho.
Há 2 faixas instrumentais. Astrolabe é delicada valsinha de ninar, onde fios de guitarra e teclado se enlaçam e Orrery traz um tapete de órgão e a doce flauta de Anna Holmgren realçando uma melodia circular, ou melhor, elíptica como a órbita planetária sugerida pelo título. As 6 canções de The Clockwork Universe têm ligação com ciência ou tecnologia.  
Prodigy inicia com delirante diálogo entre teclado Hammond e guitarra e baixo, que exclamam amor por Steve Howe e Chris Squire, mas logo entra a flauta que dilui a ideia de possível cópia. É que o som das grandes bandas prog da fase áurea virou fitas de DNA musical do sub-gênero. Fãs do Genesis notarão ecos de Tony Banks e Steve Hackett também.
Os quase 20 minutos de The Scientist’s Wife apresentam os trechos mais Canterbury, especialmente na alentada introdução de uns 5 minutos. Com diversas mudanças de andamento, poderia ser o centro do trabalho, mas, embora o casamento de Yes com Soft Machine não deixe de ser interessante, o TK não mantém o gás o tempo todo. 
Vale constatar a vitalidade desse rock progressivo de boa qualidade no Bandcamp:

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