quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

TELONA QUENTE 139

Roberto Rillo Bíscaro

O material principal das resenhas de tele e cine é bastante taciturno, porque assisto muito a drama, policial noir, horror, sci fi distópico e outras depressividades. Outro dia deu vontade de ver comédia – raro, raríssimo – mas não queria essas sucesso de bilheteria, então fui vasculhar o Google. Se há torrent, usemo-lo pra fugir do local comum; esse é meu lema. Li sobre uma comédia adolescente gay, chamada GBF (2013), no Brasil, Melhor Amigo Gay. Desconheço se foi exitosa ou largamente popular, mas o tema me chamou a atenção pela potencial inversão de alguns estereótipos. Dei-lhe chance e o filme é bem simpático.
GBF abrevia a expressão Gay Best Friend, aquele melhor amigo homossexual que diversas mulheres têm. Antigamente usavam-se termos como fag hag pras que andavam com gays; em termos semânticos as coisas estão melhorando. O filme centra-se num grupo de secundaristas prestes a se formar. A escola é socialmente dominada por 3 beldades, que vivem em paz armada; aquela velha narrativa que cansamos de ver em produções ianques: a escola é dominada e dividida por garotas populares e capitães dos times de futebol e quem não se encaixa fica no ostracismo e/ou sofre pra burro.
Só que em GBF, as 3 princesinhas buscam por um melhor amigo gay, porque está na moda ter um. Graças a uma confusão devido a um app de paquera em celulares, elas – e consequentemente a escola toda – descobrem Tanner, que não atende a quase nenhum estereótipo comumente atribuído a gays: não entende de moda, não curte divar ou holofotagem, enfim, é um garoto “normal”. Quem ama tudo isso é seu melhor amigo, Brent Van Camp, que se melindra, porque repentinamente Tanner passa a ser o centro das atenções e, sob a proteção das 3 meninas, navega razoavelmente tranquilo pelo agitado mar da High School. Mas, a tensão aumenta, porque ao mesmo tempo que a rivalidade entre os 2 ex-amigos cresce, Tanner saca que por trás da guerra das meninas, pode não residir aceitação de sua sexualidade, mas apenas a obtenção de uma bichinha de estimação.
GBF está longe de se tornar comédia clássica; há várias piadas bem fracas, aliás, mas a graça reside na colocação de algumas situações sob a chave da quase paródia, questionando-as e revelando sua falta de sentido, como quando por puro despeito o pintoso Brent se coliga com um grupo antigay pra realizar um baile de formatura “livre de homossexuais” ou quando a facção “inclusiva” de Tanner recusa admissão na formatura aos alunos não fashionistas.
O filme é social e tematicamente relevante sem ser elaborado; o tema fala muito por si só. A fórmula é a mesma de tantas comédias teens, onde no final – referência morna à Carrie, a Estranha (1976) – tudo acaba em aceitação e inclusão. Quem vê esses filmes ou certas séries imagina que nos EUA os gays podem sair divando sem problema. Choque de realidade: embora GBF só apresente beijos gays – coisa que qualquer filme infantil hétero pode ter – ganhou um R, de Restrito, pela “censura” ianque. Não há nudez, não há “fuck” ou derivados; acho que nem “shit”, mesmo assim não é pro “público geral”.
Também nem todo o elenco é tão bom, mas a música é uma delícia. Quem curtiu synth pop oitentista não deverá ter problema com o electro ou as divas bem pós-Madonna da trilha, que tem o brasileiro Cansei de Ser Sexy, lá fora conhecido como CSS. E embora não esteja no CD lançado pela Lakeshore Records, atente pro cover de True, do Spandau Ballet que toca na formatura.
Já matei minha vontade de ver comédia e até recomendo pruns 90 minutos de diversão e até reflexão, mas já volvi a meu usual planeta cinzento com filmes de possessão demoníaca e serial killer belga, porque doçura demais dá cárie.

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