terça-feira, 15 de dezembro de 2015

TELINHA QUENTE 190

Roberto Rillo Bíscaro

O sucesso do Nordic Noir abriu os olhos de parte do mundo pra produção televisiva escandinava. Claro que a Escandinávia produzira TV de boa qualidade antes de Forbrydelsen – leia resenha sobre Matador, por exemplo – mas foi a detetive-inspetora Sara Lund que nos escancarou essa porta perceptiva. O termo mostrou-se inepto pra descrever produtos como Borgen. Assim, também passou a usar-se o bem mais amplo Scandi Drama. Pra não me confinar ao Nordic Noir, tenho tentado Scandi Dramas também.
A minissérie em 8 capítulos Halvbroren (2013) baseia-se no romance homônimo de Lars Saabye Christensen e é sobre questões de identidade pessoal e familiar atravessando décadas, desde os anos 30 até meus amados 80’s. A Globosat exibe nesse momento a minissérie, aos sábados à noite, sob o nome O Bastardo.
No dia da libertação nazista, a linda e loiríssima Vera sobe ao sótão pra estender roupas e é abusada sexualmente, resultando no filho Fred. Eventualmente, a moça se casa com um tipo misterioso, que quer dar uma de ianque, e tem outro rebento, Barnum. O relacionamento dos meio-irmãos (daí o título) ocupa boa parte da trama, que flutua entre as diversas décadas, iluminando as trajetórias de todas as personagens principais. Bastante complexo e muito bem produzido, um primor de figurino, iluminação, caracterizações. O ator-mirim que faz Barnum me lembrou o Kevin Arnold, de Anos Incríveis.
Como diversas idades e ambos os gêneros ganham destaque, a riqueza de experiências e pontos de vista torna Halvbroren bastante interessante e há um pouco pra quase todos os gostos do espectro do drama: (meio-) irmão desaparecido, intriga familiar e bastante do que se chama em inglês Coming of Age film, narrativas que abordam a passagem da infância pra maturidade. Há até laivos cômicos, mas bem parcimoniosos, porque é uma produção norueguesa, afinal. De qualquer modo, o drama também não é lacrimejante; alguns até o acusariam de formal demais.
Nos capítulos finais, o roteiro comete 2 ou 3 arbitrariedades irritantes, especialmente pelo modo como a revelação final é resolvida, confiando demais numa espécie de “telepatia” das personagens, que sacam a verdade meio do nada. Sem contar numa visita a uma cabana quase destelhada, mas que provou ser ambiente propício prum antigo bilhete permanecer quase intacto sobre uma mesa. Duro de engolir e tira alguma credibilidade da minissérie, que, mesmo assim, serve pra quem quer alargar seu painel televisivo. 

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