terça-feira, 4 de março de 2014

TELINHA QUENTE 110


As luzes da ponte que liga Copenhague à sueca Malmö são apagadas por breves 45 segundos, tempo suficiente prum cadáver feminino aparecer no asfalto e ser descoberto por um policial danês e uma sueca. Como se não bastasse estar estatelado no meio dos 2 países, descobre-se que são metades de 2 cidadãs, uma sueca, outra dinamarquesa, que formam a defunta.
Esse ponto bipartido é a desculpa perfeita pra colocar em marcha complexa trama policial envolvendo os 2 países escandinavos meio rivais, na primeira temporada de Bron/Broen, respectivamente, sueco e dinamarquês pra Ponte. Exibida em 2011, o programa foi exportado pra mais de 120 países e originou 2 releituras; uma estadunidense (The Bridge, que prefiro não ver, depois da decepção com The Killing) e uma franco-britânica (The Tunnel; acho não verei também.)
Pra que conferir cópias se vi o original sensacional? A Ponte sorrateiramente viola o cérebro, viciando-o incontrolavelmente nesse mundo sombrio do inverno sueco-dinamarquês (depois reclamam que os fantasiemos sempre nublados!)
Não demora pra descobrirmos se tratar dum assassino em série, que usa denúncias sociais como aparente motivação pra massacrar. Dentre as inúmeras ambiguidades perversas d’A Ponte, há o fato de a população por vezes se colocar ao lado do maníaco, porque suas denúncias de desigualdade são genuínas.
Embora menos espalhafatoso que a pérola argentina Epitáfios, A Ponte exige suspensão da descrença pra poder desfrutar de seu desolador universo dramático. O serial killer tem meios e acesso ilimitado pra realizar o que meticulosamente planejara e tudo sai como esperava. O criminoso europeu e o argentino (da primeira temporada) são aparentados. Quando se descortina a fonte de seus desequilíbrios, até começamos a construir teorias pro desfecho, especialmente no que se refere ao policial Martin Rohde. Não que Bron/Broen seja baseado em Epitáfios, mas vale a pena ver as 2 primeiras temporadas pra comparar. 
A dupla de detetives tem química perturbadora, contribuindo essencialmente pra qualidade de A Ponte. Martin Rohde é o policial dinamarquês imediatamente gostável, bonachão, que não liga muito pras regras. Parece saído de inúmeros filmes e séries policiais, mas não se engane, Bron/Broen não é qualquer série.
A policial sueca Saga Norén é memorável. Com alguns traços de quem tem Síndrome de Asperger, ela mesma admite ter muito em comum com o psicopata, quando um psicólogo apresenta um perfil do assassino. Vivendo em seu mundo particular, sem ter muita noção das amenidades sociais, a estranheza e as falas diretas de Saga proporcionam momentos de humor desconfortáveis, mas muito apropriados ao universo algo bizarro do programa. Pra tentar agradar a esposa de Martin – depois que esse lhe ensinara que as pessoas podem gostar de conversar banalidades – Saga agradece a comida. Quando perguntada se gostaria de ter a receita, dispara. “Não, não estava gostoso” Ou quando aborda um bonitão num bar: “você gostaria de ir pra casa e fazer sexo comigo”, assim, de chofre. A atriz Sofia Helin está perfeita; um crime não amar Saga Norén!

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