terça-feira, 8 de abril de 2014

TELINHA QUENTE 115


Roberto Rillo Bíscaro

Uma das lembranças da infância é chegar da escola e ligar a TV pra assistir aos Superamigos; na Globo, se não me engano. Era o último da grade de desenhos matinais, então dava pra ver.
Baixei uns 30 gigas de desses desenhos produzidos pela produtora Hanna-Barbera. O arquivo jura que são todos os episódios entre 1973 a 1985. Não me dei o trabalho de conferir, mas realmente é bastante material, que levei meses pra terminar!
A primeira temporada chamou-se simplesmente Super Friends e foi exibida entre 1973-4. 16 episódios muito longos – quase 1 hora pruma história! – que tentei ver, mas desisti sem chegar à metade. Maçante, dava sono toda aquela encheção de linguiça.
Super-Homem, Batman e Robin, Mulher Maravilha e Aquaman envolviam-se em aventuras quase sempre provocadas porque algum maluco mexia com o equilíbrio natural. Louvável a mensagem ecológica, mas, como aguentar os insuportáveis Wendy, Marvin e o Supercão? Sem superpoderes, os 2 adolescentes e o cão foram pensados como alívio cômico, mas em nada contribuem a não ser somar pro desinteresse dessa temporada inicial.

Em 77, os super-heróis da Liga da Justiça voltaram reformulados na The All-New Super Friends Hour. No lugar dos inúteis Wendy, Marvin e Wonder Dog, Zan, Jayna e o macaco Glick. Embora eu ache o símio tão divertido quanto descascar uma banana, os Super Gêmeos tinham poderes e podiam contribuir em algumas aventuras, ainda que eram melhores em se meter em enrascadas.
Cada hora continha 4 histórias, uma das quais sempre dedicada aos Super-Gêmeos ajudando adolescentes em perigo por ter infringido alguma regra. Lição de moral era a tônica das aventuras, que muito frequentemente envolviam excesso de zelo tornado criminoso. Pra defender os oceanos, algum cientista congelava-o, fazendo mais mal do que bem.
Os desenhos são entremeados por vinhetas educativas sobre segurança, saúde, mágica e manufatura de brinquedos caseiros. Na era dos smartphones e vídeo-games é quase enternecedor ver Aquaman ensinando as crianças a reciclarem garrafas de plástico transformando-as em porquinhos pra guardar moedas. A gente se sente de outra era!
Nossa, eles poderiam ter nos poupado daquela idiotice do Super-Homem gritando “up, up and away!”. Uó!


Em 78, nova reformulação. O show – exibido nos sábados de manhã – foi dividido em 2 segmentos, de cerca de 25 minutos por episódio. O primeiro desenho manteve os heróis dos anos anteriores e os Super-Gêmeos, sem convidados especiais.
Os roteiros tornaram-se mais complexos, um tiquinho mais violentos e menos didáticos; entretenimento era a fórmula e nisso eram bem sucedidos ainda que a noção de tempo nas tramas frequentemente fosse transloucada. Mesmo desenhos animados precisam de verossimilhança; difícil engolir que a Mulher Maravilha e Aquaman sejam transformados em mutantes por uma equipe circense nos confins do universo, sejam dados como desaparecidos e no mesmo dia serem exibidos em Metrópolis como atração intergaláctica.
Valia quase tudo pra complicar as situações e deixar os Superamigos impossibilitados de ação. Sair dos embrulhos propostos pelos roteiristas eram outros 500. Cada solução ao estilo deus ex machina que nem te conto!
Os fãs de filmes de terror e ficção-científica dos anos 1950-60 perceberão que os roteiristas também o eram. Uma das aventuras chama-se Journey Through Inner Space, na qual Aquaman é novamente transformado em mutante e a Mulher-Maravilha e o Superhomem são miniaturizados pra radioativizar seu cérebro. Qual apreciador de sci fi não entendeu a referência?!
O segundo segmento da temporada de 78 trazia a Legião do Mal, grupo de 13 vilões (acham que o fatídico número foi por acaso?), liderados por Lex Luthor, que enfrentava a Liga da Justiça, composta por 11 Superamigos. A cada desenho, um plano diabólico pra derrotar a Liga, conquistar o planeta e poder roubar à vontade.
Sendo que a Terra seria dos bandidos, caso vencessem, não entendi qual o propósito de roubar. Autovandalismo? Mas os roteiros não primam pela coerência ou continuidade, então o negócio é seguir o conselho da Marta, relaxar e... ver as aventuras.
Se Super-Homem pode escanear o universo com sua visão raio-x, por que não a usa pra descobrir o pântano onde a nave da Legião do Mal submerge?
As histórias ficam sombrias nos 2 últimos episódios, que envolvem a morte dos Superamigos e o fim do mundo. Tudo bem, que tudo se reverte no final, mas não era deprê demais pra criançada no sábado de manhã?!
Curiosidade: uma das aventuras é provocada porque um velhinho d’outra galáxia transporta heróis e vilões pra lá e os coloca em desafios individuais, numa tentativa altamente ilógica de fazer a justiça prevalecer. Além de ser níveo, seus olhos são vermelhos. Estereótipo da representação albina, sacarão os leitores mais assíduos do blogue. Ou seja, outro doidivanas com albinismo maluca na TV. Haja!

A Liga da Justiça iniciou a década de 1980 com desenhos de cerca de 8 minutos. O formato era como antes, mas com histórias concisas, o que frequentemente significava que poderiam ter sido mais bem desenvolvidas. Os Supergêmeos voltam com o sem graça macaco espacial Glick. 

Na temporada 1984-5 o nome passa pra Super Friends: The Legendary Super Powers Show, no qual o então novato Firestorm é apresentado. Por ser mais jovem que os demais heróis, os hormônios do rapaz estão a toda e ele arrasta asinha pra Mulher Maravilha. Robin também é jovem, claro, mas todos sabemos que ele só tem olhos pro Batman.
Aquaman, que vinha tendo atuação reduzida, some quase de vez. Ainda bem, sempre o achei meio truqueiro: no mais das vezes, ele utiliza de sua telepatia pra fazer os animais marinhos trabalharem pra ele. Chama o IBAMA, Obama! A Mulher Maravilha aparece com voz mais “feminina” nos episódios iniciais e solta até uns gritinhos, além de ganhar um admirador que quer tê-la de rainha em seu planeta do mal. Darksseid é um malvado que aparece repetidas vezes e garante alguma diversão.  Os Super Gêmeos quase nem aparecem, ô benção!

A última temporada vista foi a de 85-6, na qual os superamigos não se chamam mais Super Friends, mas The Super Power Team: Galactic Guardians. Na era do projeto militar espacial reaganiano Guerra nas Estrelas, depois do filme homônimo à sandice do presidente, quando os ônibus espaciais eram o mais avançado em voo sideral, influenciado por Galactica e com os baby boomers já 40tões e desinteressados em desenhos, os produtores reformularam os super-heróis e as referências passam a ser mais setentistas do que cinquentistas.  
Mais um membro jovem é adicionado: Cyborg (nos anos 70, Lee Majors já vivera um cyborg de 6 milhões de dólares) vem pra fazer companhia ao igualmente mancebo Firestorm. Não adiantava, Robin não desgrudava do maridão! A maioria dos episódios têm os 2 novatos por vezes comandando a ação. Flash, Aquaman e menos cotados quase nunca têm vez; os Supergêmeos e Glick estão de fora (aleluia!).
Darkside é o vilão de quase todos os episódios, que nessa temporada ficam mais sombrios em 2 ocasiões, uma delas envolvendo a morte de Superman. O Homem de Aço aparece num ataúde, da cor do Hulk, morto por overdose de kriptonita. Achei tenso, gente!

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