quinta-feira, 17 de abril de 2014

TELONA QUENTE 85

Roberto Rillo Bíscaro

A Irlanda faz parte daquela Europa que era menos desenvolvida e que se ferrou bastante durante séculos. Fomes devastadoras, ocupação inglesa e a diáspora irlandesa são parte desses infortúnios.
Ano passado, Stephen Frears adaptou o livro The Lost Child of Philomena Lee, do jornalista Martin Sixmith, que conta mais um horror experimentado por milhares na ilha. A poderosa Igreja Católica vendeu muitos filhos de mães solteiras pra casais em busca de adoção. Procriação fora do casamento é pecado, então sacras irmãs de caridade resolviam o “problema” de muitas moças, praticamente escravizando-as em conventos e fazendo dinheiro com, digo, dando um futuro melhor pra seus filhos.
Philomena dosa drama e comédia na medida correta. Phil é uma enfermeira aposentada que, com a ajuda dum jornalista desacreditado e desgostoso, sai em busca do menino roubado há meio século. O filme não cai na fácil armadilha de apenas demonizar a Igreja. A viagem dos 2 a Washington é financiada por um jornal, que, como as irmãs, não age apenas por bom coração; querem pauta vendável.
Condicionada a crer que realmente pecara, Philomena não mostra o ressentimento e vingança esperados pelo oxfordiano periodista. Ela perdoa as freiras, mas a não-vingança fica relativizada com a sua decisão de permitir que a história seja conhecida, e, portanto, adicionada, à longa lista de argumentos contra o catolicismo.
O relacionamento de 2 personagens tão distintas – um cínico e esnobe jornalista e uma idosa que ama romances melosos – encontra fértil terreno pra florescer graças a Steve Coogan e Judi Dench. Como não se apaixonar por Phil interpretada por Dame Judi? Discreta, sem fogos de artifício, a atriz faz a arte de encarnar outrem parecer tão fácil!
Philomena, filme e personagem, é uma graça.

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