A linda história de superação do guerreiro Tiago
“Éramos casados há mais de 5 anos e
 eu queria muito ser mãe. Resolvemos fazer tratamento. Depois de mais de
 10 inseminações e 5 fertilizações in vitro, sendo 2 aqui no 
Rio e 3 em São Paulo, nasceu nossa primeira filha Beatriz. Ficamos 
encantados e resolvemos ter mais filhos. Como a natureza não nos era 
favorável, partimos novamente para a fertilização in vitro em São Paulo. Mais três tentativas e eu estava grávida aos 37 anos, primeiro de um menino, Tiago. Duas semanas depois, descobrimos o segundo bebê, a princípio chamado de nenenho por não ter nome e depois já escolhido: Diogo.
Fiquei oito meses de repouso porque a 
placenta estava muito baixa. Com 35 semanas o sempre apressadinho Tiago 
resolveu nascer. Segundo o médico ele estava em sofrimento e o 
diagnóstico foi incompatibilidade de ABO. Fui conhecer Tiago já na UTI 
um dia depois, pois ele engoliu sangue e estava em observação. Ele era 
lindo, perfeito, branquinho, parecia um anjo!
No terceiro dia ele já diagnosticado com enterocolite necrotizante neonatal,
 ficou internado por 15 dias. O irmão foi para casa. Ficava vagando 
entre o hospital e o apartamento da minha mãe na Barra onde estava Diogo
 o dia todo. Enquanto isso, Bia estava com minha mãe em Campo Grande, 
onde ela e nós morávamos.Depois de 15 dias ele teve alta, ficamos 
felizes , voltamos todos para casa. Fizeram todos os exames nele, inclusive audiometria.
Quando Tiago estava com 30 dias de vida,
 ele acordou sem querer mamar e foi novamente internado, diagnosticado  a
 princípio com infecção intestinal e depois de uma semana, novamente com
 quadro de enterocolite. Desta vez o quadro foi sério e de um dia para o
 outro quando entrei na UTI não reconheci mais o meu bebê  inchado, já 
meio roxo, entubado, com agulhas e enfermeiras para todos os lados, 
colocando sangue pela boca. Tremo só de pensar. Me disseram que ele ia 
ter que operar de emergência naquele momento.  A anestesista chegou do 
meu lado e falou: “Seu filho não tem a mínima chance de voltar vivo desta cirurgia“
Eu então respondi que se era assim não 
queria que ele sofresse mais e não queria que ele fosse operado. Lá de 
dentro da UTI veio a médica chefe e disse: “Para Deus nada é impossível, vamos rezar e fazer a nossa parte“
Ele foi operado e voltou… O médico que o
 operou chegou do meu lado e falou: “Sinto muito mãe, como médico me 
sinto frustrado porque neste momento nada pude fazer pelo seu filho. Ou 
eu cortava o intestino dele todo e ele viveria o resto da vida 
colostomizado ou eu fechava e esperava para ver onde é que está a 
inflamação no intestino. Isto vai demorar umas 48 horas para acontecer”
Minha família e meus amigos todos no 
hospital e eu fui embora sem saber o que me esperava. Não sabia que a 
enfermeira já o tinha batizado e que naquela noite meu marido também 
levou um padre lá para batizá-lo. No dia seguinte de manhã antes de sair
 liguei para saber dele, morrendo de medo da resposta. A médica me disse
 que estava tudo bem, mas mãe lá no fundo sabe… Fui fazer compras de 
mercado com meu marido, no meio das compras, larguei tudo e falei para o
 meu marido que queria ir para o hospital correndo. E lá fomos nós…
Cheguei logo perguntando o que estava 
errado e a médica disse que: “Nada mãezinha”. Cinco minutos depois ela 
sai da UTI nos chamou e disse: “Tiago será operado novamente agora. O 
estado dele é gravíssimo e não sabemos se ele vai resistir”. Quando 
entrei para vê-lo, fiquei impressionada com a sua aparência, rezei e 
pedi a Deus que fizesse a vontade dele. Para o Tiago, me despedi, mas 
disse que se ele voltasse da cirurgia eu o aceitaria como ele estivesse.
 Fiquei na capela do Hospital pensando porque Deus me daria uma criança e
 me tiraria tão depressa. A cirurgia demorou 6 horas intermináveis. 
Quando finalmente ele saiu, estava acordado e pude ver que ele estava 
ainda conosco. A médica nos disse que ele não havia tido nenhum tipo de 
intercorrência que prejudicasse seu desenvolvimento futuro, como parada 
cardíaca. O médico nos disse que havia retirado 37 cm do intestino 
delgado dele e que ele teria um longo caminho pela frente. Mal sabíamos 
nós o quanto longo seria…
Descobrimos rapidamente que ele agora 
tinha Síndrome do Intestino Curto, e que isso era muito sério, que as 
chances de ele ser uma criança normal novamente eram pequenas. Não 
poderia se alimentar normalmente, teria o crescimento lento e não 
evacuaria normalmente. Já no dia seguinte ele foi desentubado. Estava 
colostomizado, mas disseram que era provisório, que logo fariam a 
ligação do intestino de novo. Não posso descrever exatamente como essa 
criança sofreu, mas posso dizer que foram longos 5 meses de UTI. 
Medicação pesada para recuperá-lo e muitas infecções hospitalares. 
Quando eu pensava que iria levá-lo para casa, uma nova infecção. Quando 
finalmente ele teve alta, foi ainda para casa com home care porque se 
alimentava exclusivamente por sonda nasogástrica, fazendo uso de 
NEOCATE.
Nesta ocasião, antes de sair do hospital, ele não fez nova audiometria.
Foi para casa muito pequeno e sem ganhar
 quase peso. Era lindo e pequeno. E assim ele foi crescendo, 
engatinhando pela casa com vários perfusores emendados ligados a bomba 
de alimentação 24 horas por dia. Mostrou-se sempre muito esperto e 
recusava-se a ficar no quarto sozinho com a enfermeira, se jogando para 
fora querendo ficar  conosco. Engatinhou, falou e andou antes do irmão. 
No final já não tínhamos mais como segurá-lo, rodava por todos os cantos
 da casa e nós atrás empurrando a bomba alimentadora. Com 10 meses 
começou a mamar 5ml na mamadeira por dia. Aos 11 comeu banana assada e 
teve alta completa uma semana antes de completar um ano. Passou a comer 
de tudo, evacuar normamente e o seu crescimento foi normal.
Durante todo esse tempo, eu nunca fugi 
da batalha, me mantive firme e corri atrás de tudo o que podia para 
tornar a vida do meu filho melhor. Fomos guerreiros Tiago, eu, meu 
marido e nossa família. Levamos uma vida normal até que Tiago tivesse 8 
anos. A única sequela sabida por nós é que ele tinha pedras na vesícula.
Aos 4 anos, a pedido do Otorrino
 os dois fizeram audiometria que foi considerada NORMAL, embora, ao 
fazê-la, os meninos tenham chorado muito.
Tiago fazia fonoterapia porque falava igual ao Cebolinha.
 Mas nunca, nunca mesmo, eu mãe presente e atenta percebi o que estava 
por vir.. em as professoras e nem as fonoterapeutas. Aos 8 anos, ele já 
estava quase tendo alta da fono, inclusive já havia sido alfabetizado e 
tudo, sem que ninguém percebesse qualquer alteração na fala ou 
audição. A única coisa diferente é que ele via televisão muito de perto,
 mas o outro menino também fazia isso e não me chamou a atenção. Só uma 
vez a babá dele falou: ”Eu acho que seu filho não ouve direito. Ele sempre fala para mim ‘Hein? Repete’” Eu respondi: “Tá maluca!”
Então, aos 8 anos para que ele tivesse 
alta da fono ela pediu uma audiometria e um PAC dos dois irmãos. O 
primeiro a ser chamado foi o Tiago. Eu fui junto. A Fonoterapeuta 
começou a fazer a audiometria e parava diversas vezes, inclusive chamou a
 atenção dele dizendo para ele parar de brincar. Foi lá, mexeu no 
aparelho de audiometria e por fim resolveu chamar o irmão para fazer a 
Audiometria e disse para o Tiago ficar olhando para ver como era. Diogo 
Fez a audiometria e logo estava lá Tiago sentadinho novamente. Ele fez a
 audiometria , mas eu percebi que a cara da fono tinha mudado e que ele 
não conseguia repetir algumas palavras. Quando estávamos saindo, ela me 
chamou. Meu coração já sabia o que ela ia falar…
Ela disse:  “Em mais de 20 anos 
de profissão nunca tinha visto isto. Seu filho tem 50% de perda auditiva
 bilateral. Mas, como ele é muito esperto, ele faz leitura labial 
perfeitamente e ver o irmão fazer o exame foi pior, porque ele está 
tentando repetir o que ele fez e eu não consegui precisar ao certo, qual
 é o grau da sua perda. O mais impressionante é que ele fala 
perfeitamente. Você, mãe, vai sair daqui, engolir o choro e fingir que 
nada aconteceu porque eu terei que fazer mais umas duas audiometrias 
para confirmar o grau da perda“
Ela o chamou novamente, colocou um papel
 na frente da boca dela e mandou que ele repetisse algumas palavras. De 
dez ele acertou duas. Eu saí da sala, com meu marido do lado de fora com
 os gêmeos esperando, meu coração em pedaços. Não falei nada, mas meu 
marido logo perguntou: “Que cara é essa, o que aconteceu?”
Eu chamei ele num cantinho e contei 
engolindo o choro. De lá partimos direto para o pediatra que acompanhava
 Tiago desde o nascimento. Ele também não acreditou e me mandou no mesmo
 dia direto para o Otorrino.Eu estava sem a audiometria porque ela não 
me entregou na hora. Mas o médico foi taxativo: “Pelo tipo de medicação que este menino tomou posso afirmar que realmente ele pode ter perda auditiva”
  Pediu nova audiometria com uma nova fono de confiança dele, 
ressonância, a lista de remédios que ele havia tomado na UTI, entre 
outros exames e pesquisas para ver se a surdez não era por outro motivo.
Fizemos todos os exames pedidos, e foi 
confirmado que a perda era de 50% e que foi devida às medicações usadas 
para mantê-lo vivo na UTI. São os famosos Aminoglicosídios, como a 
Gentamicina entre outros. Ele nos disse que essa perda acontece, mas que
 estabiliza em um determinado grau e que ele teve sorte porque havia 
estabilizado em 50%. Que ele teria que usar aparelho urgente para não 
perder a qualidade de fala muito boa que possuía.Pensava, meu Deus 
porque essa criança que já sofreu tanto, ainda tem que passar por isto? 
Mas, embora triste, aceitamos a situação. Não culpo o hospital 
pelo uso da medicação, embora esses medicamentos não sejam usados mais 
fora do Brasil, eles salvaram a vida dele.
Tiago passou a usar aparelho auditivo externo em ambos os ouvidos.
 Aceitou a situação, acho até que melhor que os pais. Não gosta muito de
 falar como ouve, e dos problemas que sente usando o aparelho. Também 
não gosta de responder as perguntas que as pessoas fazem sobre o 
aparelho. Ele se fecha, mas não tira o aparelho para nada. É aceito bem 
pelos amigos e não tem problemas de relacionamento. Faço audiometria 
nele todo ano e o quadro dele continua estável, como o médico me 
afirmou. Na escola, ele é muito esforçado e não encontra maiores 
dificuldades. Senta na frente. A maior dificuldade é no inglês, na 
pronúncia, mas mesmo assim ele segue em frente. Hoje ele está com 11 
anos, adora futebol, vê todos os jogos e joga também. Vai passar por 
mais uma provação, a última sequela que ficou das medicações usadas na 
UTI, retirar a vesícula, agora em julho. Mas como ele é um guerreiro, 
isso não vai impedi-lo de continuar a crescer na vida.
Resumi
 o máximo que pude, o que gostaria de frisar é que os pais que têm os 
seus filhos internados em UTI’s fiquem atentos, façam várias 
audiometrias, porque fomos avisados de várias coisas que poderiam 
acontecer com ele, menos que ele poderia ter perdido ou a audição.
A lista de remédios que ele usou:
 piperacilina com tazobactan, gentamicina, cefepime, meropenem, 
vancomicina, amicacina, metronidazol, anfotericina lipossomal, 
fluconazol, teicoplanina.
 




 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário