quarta-feira, 23 de abril de 2014

INCLUINDO

Educação Inclusiva não é utopia: algumas dicas para professores
*Por Luciane Molina

A educação inclusiva não atrai tanto o professor do ensino regular quanto aquele que atua na educação especial. Apesar de serem modalidades distintas, com objetivos e ações específicas, o “inclusivo” e o “especial” caminham quase paralelos dentro de um sistema de ensino massificado e emergente.

Estou em contato, quase que diariamente, com professores do ensino regular e do atendimento educacional especializado. Ouço discursos dos mais apaixonados aos mais levianos, argumentos que preservam a ideia da diversidade e, outros alegando falta de formação ou suporte para atuar com o que é “diferente” aos seus olhares apáticos.

Hoje decidi investir em outra estratégia. ao invés de apontar as falhas e sugerir uma mudança de postura, encontrarei bons exemplos  para que sirvam de incentivo aos que desejam ousar e fazer a diferença na vida de seu aluno com deficiência. Falarei aqui do aluno com deficiência visual.

EVITE ATIVIDADES ORAIS
Na ausência de conhecimento sobre o sistema Braille ou da tecnologia assistiva, procure auxílio com um profissional especializado. É sempre muito cômodo investir em atividades e provas oralmente, aquela em que o aluno apenas repete/verbaliza o conceito aprendido. Essa estratégia só deve ser adotada se for utilizada com todos da turma e não exclusivamente com o aluno cego. Insistir nessa estratégia trará prejuízos no aprendizado da língua escrita, leitura e interpretação de textos por meio do registro escrito. A pessoa cega tem condições de ler e escrever utilizando o sistema Braille ou a informática com leitores de tela.

COMUNIQUE O QUE ACONTECE
A expressão corporal auxilia a comunicação verbal, entretanto quando os gestos forem usados para apontar, mostrar ou direcionar a atenção para algum ponto específico, convém que o professor verbalize e seja o mais claro possível para que o aluno cego possa acompanhar sua explicação. Por exemplo, ao mostrar um livro, diga o nome do livro que está em suas mãos ao invés de dizer “este livro”. Chame cada aluno pelo nome ao invés de apontá-los com os dedos. Informe qualquer movimentação ao redor para que o aluno cego acompanhe o que acontece. Seja sempre descritivo e quando escrever no quadro, fale em voz alta.

MATERIAIS CONCRETOS
As disciplinas são apresentadas por meio de textos e imagens. No universo visuocêntrico as figuras complementam o conteúdo textual, tornando o aprendizado muito mais atraente. O aluno com deficiência visual precisa manusear os objetos e as figuras dependem de estímulos sensoriais para serem percebidas. São texturas, aromas, formas e relevos que passam a ser os elementos fundamentais para o aprendizado. Agregar estímulos sensoriais aos visuais pode ser um recurso positivo para a turma toda. Não é preciso construir um material específico para um aluno, mas integrar elementos diversos para um mesmo objetivo. Por exemplo, para ensinar uma reta numérica o professor pode utilizar um barbante com nós. Argolas entrelaçadas para ensinar noção de conjuntos, quebra-cabeça de mapa para ensinar as regiões geográficas.

ANTECIPAR ATIVIDADES
O professor do ensino regular precisa articular seu trabalho com o professor do atendimento educacional especializado. Antecipar a matéria para que o especialista transcreva os textos para o Braille ou digitalize as páginas do livro didático a ser trabalhado pode ser uma boa estratégia, mas não delegue a esse profissional todas as responsabilidades da preparação do seu material. O professor do ensino regular precisa prever as adaptações e utilizá-las em suas aulas.

ADAPTAÇÃO
Adaptar não significa entregar um material diferente para o aluno cego ou oferecer outro conteúdo em substituição ao inacessível. Adaptar não significa privá-lo do que não pode compreender visualmente, mas encontrar um caminho para transmitir determinado conceito de maneira eficaz. Cito como exemplo a escolha de um filme dublado ao invés de um legendado para trabalhar determinado conteúdo. É preciso oferecer a todos uma forma de participar das aulas.

Seu compromisso com a educação faz muita diferença para a melhoria da qualidade de ensino e para que a inclusão do aluno com deficiência visual aconteça de maneira natural. A deficiência não está na pessoa, e sim na condição oferecida a ela para ultrapassar as barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais.

Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência visual. Atua com educação inclusiva e formação de professores.

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