segunda-feira, 28 de abril de 2014

CAIXA DE MÚSICA 123



Roberto Rillo Bíscaro

Nas últimas semanas, 2 álbuns têm frequentado minhas playlists. De gêneros distintos, mas compartilhando a melancolia.
Orcas é um duo formado por Rafael Anton Irisarri, que atua com música eletrônica e minimalista, ambiente e Benoit Pioulard, que traz na bagagem influências shoegazer e indie pop. A junção dessas vertentes na chuvosa Seattle resultou em Yearling, melódico e outonal, lançado no começo do mês.
A calmaria da electronica do mar das Orcas vem banhada em elementos de rock como guitarra e bateria, em tom calmo, mesmo quando ensaia vagas mais fortes. Há certo clima de se navegar em meio à eletricidade estática em algumas faixas, como nos quase 9 minutos de Tell, instrumental ambiente-minimalista que dá a sensação de navegação no espaço sideral em meio a suaves ondas de estática.
O teclado de Half Light remeteu este 40tão à sonoridade prog de Tony Banks lá pelos fins dos anos 70, mas a canção é quase pop com vocal meio a la Morten Harket. A plangência da construção harmônica da guitarra de Selah soa como o Durutti Column, prespontada sobre um teclado Kraftwerk anos 70, numa melodia que vai se tornando mais complexa e instrumentada. Infinite Stillness tem bateria My Bloody Valentine coabitando com um carpete de teclado, com a inclusão de guitarras pra resultar numa pequena catarse de barulho abafado.
Acessibilizando elementos tão díspares, Yearling é uma delícia pra relaxar e/ou preparar pro sono.


True Detective me entediou um pouco, mas serviu pra conhecer a canção-tema, Far From Any Road, sangrento TexMex com linda harmonia vocal, que aproxima a série a Tarantino e às histórias sobrenaturais do Velho Oeste.
O casal que forma a The Handsome Family deu sorte quando a HBO escolheu a faixa de seu álbum Singing Bones (2003) e ganhou na loteria quando True Detective estourou.
The Handsome Family faz música country bem tradicional, com pinceladas de bluegrass e aquelas baladas sangrentas que fascinam há séculos. Nada a ver com modernices aproximadoras de country com pop. Porém, a produção deixa o som com uma sonoridade desértica, de abandono tão cara e coerente com certa modernidade. Por isso a dupla é considerada alternative country.
Não espere a alegria apalermada das canções de peão universitárias. Singing Bones é sério, solene  e poeirentamente sombrio sob o sol do Oeste. 24-Hour Store é sobre uma assombração; a incorporação do serrote musical deixa-a ainda mais fantasmagórica. If the World Should End in Fire é quase um hino religioso a capela, com vozes poderosas. Os mais velhos lembrarão d’O Álamo de John Wayne; os mais jovens, d’alguma tarantinice. Talvez seja essa miragem de atemporalidade um dos segredos da beleza de Singing Bones.
As letras sobre tendências suicidas, relações devastadas misturam elementos naturais com lugares-comuns da contemporaneidade como máquinas de café, xerox e telas de computador.
Desde os canadenses do Cowboy Junkies que um disco de country não me agradava tanto.

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