segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ZOOFILIA NA ARGENTINA



Buenos Aires sempre tem alguma peça teatral que me interessa, quando estou de férias por lá. Em julho vi minha segunda obra de Edward Albee encenada na capital argentina. A primeira foi Quem Tem Medo de Virginia Wolf, há alguns anos. Quando soube que meu adorado Júlio Chavez dirigia e estrelava La Cabra, tive que ir.
De 2002, The Goat, or Who is Sylvia? é outra martelada na parede do Sonho Americano. Um famoso arquiteto de meia-idade com um casamento e família quase perfeitos – o filho é gay, mas é “aceito” pelos pais (será?) – apaixona-se por uma cabra.
A sala de estar ainda é o ambiente pra desconstrução – neste caso, bastante literal – mordaz de Albee, via zoofilia e incesto homossexual. Curioso o relato do dramaturgo contando que muita gente abandonava o teatro na discreta cena de sedução entre pai e filho, mas não durante as descrições de bestialidade.
A despeito das limitações dramatúrgicas impostas pela ambientação na velha sala de estar, La Cabra consegue ser perturbadora ao provocar risos nervosos e incomodados devido ao tema forte, que serve como metáfora para certa desconstrução da hipocrisia social.
A montagem argentina está muito bem dirigida e interpretada. Viviana Saccone sai-se muito bem no papel da esposa traída.
Júlio Chavez talvez seja o melhor ator argentino do momento, com grandes filmes e séries de TV no currículo. Poderia tranquilamente montar peças de fácil digestão pra capitalizar em cima de seu prestígio internacional, mas escolheu um texto inquietante e difícil, com o qual brilha. Sentei-me na primeira fila pra desfrutar o mestre o mais perto possível.
Em cartaz no Teatro Tabaris, na Avenida Corrientes, La Cabra merece ser vista caso você vá a Buenos Airese esteja disposto a ver um espetáculo desafiador.

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