segunda-feira, 7 de junho de 2010

MATANDO PAIS

Na mitologia grega, os deuses do Olimpo destronaram as divindades primitivas, depois que Zeus derrotou seu pai, Cronos, o qual possuía o péssimo hábito de engolir seus filhos assim que nasciam, a fim de proteger-se duma derrota perante eles.

Na psicanálise, Freud descreveu o período em que o filho passa a digladiar-se com sentimentos de hostilidade perante o pai, ao perceber que este divide a atenção da mãe.

Na mitologia e na psicanálise, os filhos precisam matar a onipotência da figura paterna para se afirmarem como sujeitos autônomos.

Comment J'ai Tué Mon Pere (2001), da diretora e roteirista Anne Fontaine, é um estudo sutil da relação entre pai e filho.

Jean Luc é um bem sucedido geriatra que vive na afluente Versalhes. Em sua imensa casa, também moram o irmão fracassado, que ora trabalha como chofer do médico e Isa, linda e entediada moça rica, esposa de Jean Luc. A relação entre os três é de dominação e condescendência por parte do gélido Jean Luc. Versalhes, que outrora simbolizara o luxo e a devassidão da nobreza, agora vira lócus para a corrosão do tédio, dos problemas psicológicos e da gélida brutalidade da polidez burguesa. Claro que Fontaine conhece bem a filmografia do compatriota Claude Chabrol...

A superfície plácida da vida dessas personagens será modificada com o inesperado retorno (será mesmo? Não foi imaginação de Jean Luc?...) de Maurice, o pai já ancião, que abandonara a família sem dar explicação ou adeus e foi para a África, onde trabalhou como médico.

Maurice é glacial como o filho mais velho, mas possui uma espécie de charme quase clerical que faz com que Isa simpatize com ele e o deseje. Também consegue estabelecer algum contato com o filho mais novo. Isso irrita Jean Luc, que, psicanaliticamente, detesta o pai, mas repete seu padrão de comportamento.

O roteiro não deixa nada simples ao espectador. Maurice não é um velhinho benigno e simpático, apesar de ser realmente charmoso. Michel Bouquet está brilhante na interpretação da personagem que ora cativa, mas depois diz ao filho que não tem obrigação de amá-lo. Todo o elenco nos brinda com atuações milimetricamente soberbas, na verdade.

Comment J'ai Tué Mon Pere é um psicodrama denso, introspectivo e quieto. Eles são educados demais para levantar a voz! Trés chic!

(Pai, você foi meu herói, meu bandido...)

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