quinta-feira, 30 de junho de 2016

TELONA QUENTE 165

Roberto Rillo Bíscaro
Das 3 soaps noturnas clássicas dos 80’s, só falta eu assistir a Falcon Crest, sempre ofuscada pelas mais importantes DALLAS e Dynasty. Hoje, além de eclipsada, a série que se passava em vinícolas californianas está esquecida. Minha motivação pra ver Tu Seras Mon Fils (2011) foi meio porque li que envolvia a sucessão no comando duma tradicional casa de vinhos. Não esperava novela, por óbvio, mas também não esperava certa imaturidade no roteiro.
Paul de Marseul é o velho de vasta juba branca que comanda multicentenária e milionária vinícola numa linda região francesa. Seu capataz está com câncer terminal e seu filho Martin, embora tenha habilidade gerencial, carece de nariz enólogo. Quando Philippe, filho do empregado doente, retorna da Califórnia pra visitar o pai, Paul encafifa que o moço - atraente, enófilo esnobe e que ama coisas caras – seria perfeito herdeiro da propriedade. Humilhando cada vez mais Martin, Paulo cogita até adotar Philippe, colocando a questão de que o estatuto da filiação pode fugir à alçada biológica.
Tu Seras Mon Fils começa como drama familiar sem destaque pra assumir ares de thriller melodramático. O final está meio cantado quando se insiste numa particularidade da produção do vinho e do que resultou prum antepassado de Paul. Quem leu A Convidada, de Simone de Beauvoir, poderá encontrar similitudes.
O problema é a discrepância de profundidade entre as personagens. Paul e Martin são blocos imutáveis: o primeiro é desprezível em sua frieza, sexismo, arrogância, ao passo que o filho pode até ser bom em gestão, mas é tão bunda-mole que nem pena conseguimos sentir. Vítima profissional dá nojinho. Já o capataz, que percebe de imediato o jogo de sedução econômica pra cima de seu filho, guarda ressentimentos além da lealdade a Paul. Na verdade, o núcleo do capataz é mais profundo, ao passo que o de Paul é monolítico. Se isso é resquício da velha tendência esquerdista de mostrar a “classe dominante” como oca, desprezível e decadente, combinemos que está bem datado. Desconheço a filiação ideológica do diretor/produtor/roteirista Gilles Legrand, mas não há como negar que isso aconteça em Tu Seras Mon Fils.
Niels Arestrup convence no duro papel antipático de Paul de Marseul e alguns poderão até se surpreender com quem e como desfecha a situação. Tu Seras Mon Fils não é ruim, mas poderia ter sido muito melhor se fosse menos novelão maniqueísta no fun’d’alma.

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