sexta-feira, 17 de junho de 2016

EM PLENO SÉCULO XXI...(XXI?)

Órgãos de indivíduos com albinismo não têm poderes mágicos, recorda o chefe da ONU

O braço do menino Mwigulu Matonage Magesa, da Tanzânia, foi amputado por criminosos.



No Malawi, médicos tradicionais rejeitam envolvimento no assassinato de albinos; em Moçambique, Isabel Novella canta pelo fim dos assassinatos de albinos.


A crença "completamente errada" de que poções e amuletos feitos com partes do corpo de pessoas com albinismo têm poderes mágicos" levou ao aumento da procura, em alguns países, por tais restos humanos".

O Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon faz a afirmação na sua mensagem alusiva ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Albinismo, 13 de Junho.

A crença, recorda Ban, levou a ataques, sequestros e assassinatos de pessoas com albinismo e até ao roubo de seus corpos nos cemitérios dalgumas partes do mundo.

Na África Austral, Malawi, Moçambique e Tanzânia têm os piores cenários reportados.

No Malawi, a onda de assassinatos levou o Tribunal Supremo a decretar o banimento da prática de curandeirismo.

A decisão do Supremo surge depois de três residentes de Mzuzu, cidade nortenha daquele país, terem apresentado uma queixa sobre o trabalho dos curandeiros. Um deles disse que pagou muito dinheiro a um curandeiro para recuperar o amor da sua vida e em nada resultou.

O advogado dos três indivíduos, George Kadzipatike, explicou que outro cliente reclamou que a onda de assassinatos é apoiada pelos “curandeiros que receitam ossos de indivíduos albinos para serem usados em actos que geram riqueza milagrosa”.

Nos últimos dois anos, muitos albinos foram mortos no Malawi com base nessas afirmações supersticiosas.

O banimento proposto pelo Supremo inclui os chamados médicos tradicionais e mágicos.

A Associação Malawiana de Albinos saudou a iniciativa.

Mas os médicos tradicionais querem desafiar a medida. Argumentam que não estão envolvidos em magia ou venda de órgãos de indivíduos albinos.

Robins Zaniko, Secretário-geral do Conselho Internacional de Medicina Tradicional do Malawi, disse que a medida “é injusta, porque não há nenhum meio para misturar órgãos humanos com algo que será consumido. Normalmente fornecemos às pessoas remédios tradicionais para tomarem e curar doenças”.

Ambição e ignorância

Segundo Zaniko, menhum médico tradicional foi detido em conexão com o assassinato de indivíduos albinos.

Para Timothy Mtambo, director executivo do Centro de Direitos Humanos e Reabilitação, “banir os curandeiros não é a resposta adequada para combater o assassinato de albinos. É preciso encontrar mecanismos para lidar com os suspeitos e provar a sua responsabilidade”.

No Malawi e noutros países da África Austral, onde os sistemas de saúde são deficientes, muitas pessoas recorrem aos curandeiros.

Desde novembro de 2014, 18 pessoas com albinismo foram mortas no Malawi, e cinco são dadas como desaparecidas, denunciou um relatório recente da Amnistia Internacional.

Em Moçambique foram já reportados casos de assassinato de curandeiros. Alguns casos foram julgados e condenados, mas não estudos exaustivos sobre a dimensão da situação.

Nos três países - Malawi, Tanzânia e Moçambique – decorrem campanhas para inverter a situação.

A cantora moçambicana Isabel Novela, por exemplo, gravou “Ntsumi” (anjo) para ajudar a sensibilizar as pessoas a não assassinar as pessoas com albinismo.

“Não tire a minha vida, irmão…meu corpo não dá sorte, não perca o teu tempo”, canta Novella personificando uma pessoa com albinismo.

Novella diz que é importante “dialogar através da arte com os que perseguem os albinos para mudarem o comportamento influenciado pela ambição sem medidas e ignorância”.

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