segunda-feira, 9 de março de 2015

CAIXA DE MÚSICA 160

Italo Prog VI

Roberto Rillo Bíscaro

A Itália é curiosa. Quando algum gênero musical cai em suas graças, os italianos copiam e maximizam tanto alguns aspectos, que obrigam a criação de subgêneros prefixados com ítalo. Já escrevi sobre Italo Disco. Com o rock progressivo não foi distinto. Nos anos 70, mormente na primeira metade, a Bota empipocou-se de bandas geralmente inspiradas em modelos britânicos, mas injetando certa “italianidade” nos vocais dramáticos (muitos muito ruins), instrumentação épica, enfim, o exagero.
A quase totalidade dessa produção periga ser esquecida, embora esteja cada vez mais disponível, por exemplo, com álbuns completos no Youtube.
Voltei pruma vibe de Italo prog – confira comentários sobre álbuns do sub-gênero aquiaqui, aqui, aqui e aqui - e quero compartilhar mais impressões com vocês.

Forse le Lucciole Non Si Amamo Piú, do Locanda Delle Fate deu azar de sair no fatídico 1977, ano da explosão punk. Ninguém prestou atenção a este álbum melódico, complexo e bonito, que agradará fãs de grupos de prog sinfônico tipo Genesis, Yes e Gryphon. A instrumental A Volte Um Instante di Quiete abre os trabalhos em clima jazz rock e é minha favorita, com grandes passagens de piano e Hammond. As outras faixas são cantadas em italiano com vocal expressivo e cada uma delas tem pelo menos um riff de guitarra, flauta ou teclado que gruda, vicia, dá vontade de correr por palácios ou campos de flores ou simplesmente te derrete o coração; sem contar os duetos entre os diversos instrumentos. Sabe aquela guitarra fininha a la Steve Howe ou Steve Hackett com piano salpicado, flauta trauteada e vocal dramático (sem exagero)? O paraíso pra corações sinfônicos tradicionais e sem experimentalismos.    
Dedicato a Frazz (1973), único lançamento do Semiramis combina influências e instrumentos variados, sob a chefia dum guitarrista de 16 anos de idade. Talvez a imaturidade dos meninos e a pouca duração das faixas resulte em ideias muito boas na mesma canção, que não são desenvolvidas, dando a impressão duma colcha de retalhos, que, se não decepciona, deixa a sensação de “quero mais” em muitas passagens. Luna Park, com seus 2 riffs grudentos de guitarra, é o momento alto. O mais enfadonho é a seção final de Un Zoo di Vetro, cerca de 2 minutos de marimba, xilofone ou sei lá o que tentando das a impressão vítrea do título. De qualquer forma, é um álbum que não deixa o ouvinte indiferente.
Melos (1973), filho único do Cervello, é ideal pra ser ouvido com fone de ouvido por quem gosta de guitarra, psicodelia e momentos delirantemente bombásticos. Notável pela ausência de teclados, o álbum vai do pastoral folk ao caos experimental do King Crimson ou Van Der Graaf Generator, mas nunca enjoa nesses momentos, porque sempre tem uma guitarra, flauta ou sax desenvolvendo alguma linha interessante e os trechos mais avant-garde não são longos. Os vocais são em italiano e bons, com um cantor que vez ou outra ensaia um gritinho meio hard rock. Pra ouvir repetidamente pra se ir descobrindo elementos.
A tradição criativa da Itália na seara prog persiste. O Unreal City lançou La Crudelitá di Aprile (2013) pra deleite de amantes da linha sinfônica e muitos elogios ao cantor, que não me encanta, mas não obscurece a excelência desse trabalho cantado em italiano e que tem sonoridade muito contemporânea, mas carrega toda a tradição setentista, expressa em constantes, fluentes e generosos jorros de teclados analógicos. Guitarras solando em diversos registros, muita teatralidade, alternância de ritmos e tempos, os quase 60 minutos de música têm trechos pra agradar roqueiros, góticos, Neo Proggers e a moçada que curte bandas jovens.

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