terça-feira, 10 de março de 2015

TELINHA QUENTE 154

Roberto Rillo Bíscaro

Entre 1788-90, Suécia e Rússia travaram guerra insuflada em grande parte pela necessidade Real de distrair o povo, silenciar a oposição e externamente incentivada pela Inglaterra, Holanda e outras potências ocidentais insatisfeitas e temerosas com a crescida russa.
Anno 1790 (2011), série sueca em 10 episódios, aproveitou esse período de pós-guerra - quando o país vivia numa cerrada autocracia, mas dissidentes simpáticos à Revolução Francesa ansiavam por liberdade, igualdade e fraternidade – para ambientar histórias de detetive, resultando uma espécie de Nordic Noir de época.
Johan Gustav Dåådh é um médico antimonarquista, que, após o conflito, aceita o cargo de comissário de polícia em Estocolmo. Parte da tensão é a dicotomia da personagem entre trabalhar prum regime que condena intimamente, mas que não pode criticar devido ao cargo. Dåådh teme por seu pescoço, caso descoberto, mas igualmente discorda dos métodos violentos usados pelos antiabsolutistas. Pra complicar, apaixona-se – e é reciprocado – pela esposa de seu superior. Só isso já lhes custaria opróbrio na conservadora Suécia de fins do século XVIII.
Em meio e às vezes em decorrência desses fatores, Dåådh usa lógica e rudimentares técnicas forenses pra desvendar assassinatos em cada episódio. Destoando dos Nordic Noirs ambientados na atualidade, Anno 1790 tem cenas nojentinhas de autópsia, carne lacerada e cabeças esmagadas. Pode enjoar que muitos episódios sigam a estrutura “os superiores decidem que alguém é culpado, Dåådh infere que não e parta pra provar que tem razão”. Mas, daí, quantas narrativas detetivescas não são assim?
Anno 1790 mostra uma Suécia afrancesada no vestuário e vocabulário, mas temerosa da novidade revolucionária (ad)vinda da Queda da Bastilha. Essa ambientação e a repercussão na vida das personagens centrais destacam o show de outros, que, acoplado com casos bem bolados, garante a diversão, ainda que não alcance o nível das conterrâneas Bron/Broen (co-produção com a Dinamarca), Arne Dahl ou Irene Huss.
Embora bem produzida, é modesta se comparada às produções de época norte-americanas, e os custos pra TV sueca determinaram a inexistência de segunda temporada, que tinha roteiros escritos e atores contatados. Talvez, se tivesse alcançado o sucesso internacional de outros policiais escandinavos... 

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