segunda-feira, 2 de março de 2015

CAIXA DE MÚSICA 159

Italo Prog V

Roberto Rillo Bíscaro

A Itália é curiosa. Quando algum gênero musical cai em suas graças, os italianos copiam e maximizam tanto alguns aspectos, que obrigam a criação de subgêneros prefixados com ítalo. Já escrevi sobre Italo Disco. Com o rock progressivo não foi distinto. Nos anos 70, mormente na primeira metade, a Bota empipocou-se de bandas geralmente inspiradas em modelos britânicos, mas injetando certa “italianidade” nos vocais dramáticos (muitos muito ruins), instrumentação épica, enfim, o exagero.
A quase totalidade dessa produção periga ser esquecida, embora esteja cada vez mais disponível, por exemplo, com álbuns completos no Youtube.
Voltei pruma vibe de Italo prog – confira comentários sobre álbuns do sub-gênero aqui, aqui, aqui e aqui - e quero compartilhar mais impressões com vocês.


A faixa final do primeiro álbum do Quella Vecchia Locanda apontava o caminho pelo qual o grupo enveredou espetacularmente em seu segundo e derradeiro trabalho, Il Tempo Della Gioia (1974). Deixando de lado aspirações hard rock e melhorando os vocais, o QVL apresentou 5 complexas peças com influência de música erudita, rock e jazz. As 2 primeiras são mais influenciadas por música clássica, como A Forma Di que dá vontade de correr por corredores palacianos ao som de seu coro, violino, harpiscórdio, flauta; executados com maestria não encontrável nem em sucessos britânicos tipo ELP. Puro Vivaldi elétrico. As 3 faixas restantes fundem e/ou sucedem momentos jazzy, rocker ou eruditos. Por vezes temos uma guitarra que soa jazz, seguia por piano clássico, sucedido por guitarra com registro rock. Tudo integrado à perfeição. A abundância de instrumentos e harmonizações vocais desincumbe o uso de órgãos a mancheia pra produzir efeito prog, então, quem só goza com jorros de Hammond ou Moog pode se frustrar: os teclados são bem discretos em Il Tempo Della Gioia. Joia; nem sempre uma palavra do título descreve tão bem um álbum. 

Terra in Bocca (poesia di unn Delittlo), lançado em 1971 pelo I Giganti é notável em mais de um sentido. Primeiro, porque é um dos grandes álbuns esquecidos do prog italiano, composto relativamente cedo quando se tem em mente o contexto de lá. Segundo, porque tem vocais muito bons; a voz foi o ponto fraco de diversos grupos itálicos. Os 4 membros revezam-se ou sobrepõem-se pra contar a história dum garoto assassinado pela Máfia na Sicília. O tabu do tema na época ocasionou boicote ao I Giganti, que desiludido, se desfez. Denso e repleto de lindas melodias, Terra in Bocca não segue o padrão comum de longos solos. Existem momentos instrumentais nas 2 longas suítes – cheque a impressionante abertura -, mas a mistura de rock, folk, momentos suaves quase pop serve de base pra história dessa ópera-rock. Cheio de mudanças de andamento e efeitos sonoros é um álbum impressionante pela coesão e pela muralha instrumental  
Dos 2 álbuns do Errata Corrige, o primeiro é o que importa. De 1976, Siegfried, il Drago e Altre Storie atua no lado suave da força progressiva. 6 canções com delicados vocais em italiano e riqueza instrumental com uso de violoncelo, flauta e passagens muito belas de violão. Teclados discretos com poucos momentos de predominância, Mais pro final, o clima fica mais musculoso, mas nunca “barulhento”. Pra contar a lenda germânica, os italianos usam efeitos sonoros de floresta, mar, bastante influência sinfônica, folk e até pop. Arranjos complexos pareiam a obra com congêneres tipo PFM, Celeste. Fãs do Genesis fase Peter Gabriel têm grandes chances de apreciar.  
Nem só de profusão de instrumentos e constante alternância de ritmos e texturas vive o rock progressivo. O filho único homônimo do Automat (1978) consiste de repetição de estruturas mediante uso do mais moderno sintetizador da época resultando em sonoridade influenciada por Jean Michel Jarré e em muitos momentos clonada do Kraftwerk. Com influência da batida disco, o Automat fez o som como imaginávamos que seria no futuro dominado por máquinas e informática. Quem viveu a época provavelmente reconhecerá The Rise, The Advance, The Genus e Droid – as mais aceleradas – usadas em reportagens televisivas sobre cibernética ou em comerciais de cigarro e cursos de informática que ensinavam Basic e Cobol.

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