quinta-feira, 9 de maio de 2019

TELONA QUENTE 287



Roberto Rillo Bíscaro

Embora os Estados Unidos preponderassem na produção de filmes sci fi/horror/trash dos anos 50/60, nações menos importantes, como o Reino Unido, de vez em quando colaboraram com algo. Há quem desconheça que fora do eixo anglofalante tenha havido produções. Claro que teriam melhores (únicas) chances de distribuição se faladas em inglês, mas o Japão tem vários filmes legais, dentre eles o influente Gojira (Godzila no Ocidente) e outros monstros pós-nucleares.
Fora desses três países, há casos isolados, como o dinamarquês Reptilicus (1961), sobre um lagartão que aterroriza Copenhague. Mas, quase sempre foram iniciativas conjuntas com algum estúdio barato dos Estados Unidos. Terror in the Midnight Sun (1959) é coprodução sueco-americana que, por ser facilmente achável no Youtube, pode ser interessante caso de estudo para apreciadores do cine trash da época, não apenas pela inerência da produção. Mas, vamos por partes.
Falado meio em sueco, meio em inglês, Rymdinvasion i Lappland é mistura sem nexo e dinheiro, de King Kong (1933 - esse filme é muito influente!), O Abominável Homem das Neves (1957) e de modo geral, dos filmes de alienígenas pousando em áreas remotas e pouco fazendo, porque faltava grana na produção.
Uma bola de fogo risca os céus da nevada Lapônia e grupo de cientistas, com uma moça enxerida, vão até lá investigar. Sem fundos, boa parte do filme, como de praxe, é falação, e nesse caso, cenas de esqui e montanhas nevadas. A bola ígnea é obviamente uma espaçonave, mas isso é apenas desculpa pra botar um cara vestido com roupa de corpo de gorila e cabeça de monstro, andando pela neve (tipo Robô Monstro), com a berrante mina nos braços.
Esses filmes são apenas prum nicho bem pequeno hoje em dia: apenas nós que nos divertimos com incongruências ou machismos, tipo colocar garota supostamente campeã olímpica de patinação ou algo assim, mas que consegue levar dois tombos feios em menos de 90 minutos. E, depois dum desses tombos, começar a correr como se o joelho estivesse na melhor das formas.

Os cheapies – como eram chamadas essas produções de fundo de quintal – passavam por processos de reciclagem frequentes. Tomadas/Cenas/Sequências inteiras eram reutilizadas em diversos filmes. Adendos eram gravados e inseridos em material existente, gerando filme “novo”’, enfim, os produtores e cineastas independentes sabiam e queriam ganhar alguns dólares sem gastar.
O Youtube permite aula magna desse processo de picotagem, clonagem, reciclagem (picaretagem?) pra quem consegue acompanhar inglês sem legenda, se bem que essas produções eram pra meninada ver em drive ins, em sessões duplas, nem mesmo os nativos ligavam muito pros diálogos.
Um dos produtores suecos vendeu os direitos de Terror In The Midnight Sun pros ianques. Reza a lenda que o escandinavo embolsou toda a bufunfa... Anyway, na linha barata de montagem californiana, a duração foi drasticamente reduzida (e mesmo assim há encheção de linguiça pra fazer uma churrascada) e cenas gravadas pra inserção. O resultado é Invasion of the Animal People, que faz ainda menos sentido que seu genitor, afinal, a película é um verdadeiro Frankenstein; só retalhos.
Tudo começa com o então onipresentemente trash John Carradine fazendo introito sobre a importância da ciência e depois a atriz Barbara Wilson gravou cenas extras, pra inferir que sua personagem já vivera situação traumática envolvendo contatos com alienígenas. Daí, aparecem as notícias da queda da bola de fogo e todo mundo vai pra Suíça (notem que não é mais Suécia, mas depois parece que é, sei lá). Qual a relação de causa e efeito ou qual arco descreve a personagem mediante dois traumas com ETs? Imagine que tem isso; nem há relação entre as experiências da moça. É só pra ter filme, gente! A parte esses extras, todo o restante são cenas do filme sueco, que, se já não fazia muito sentido, nessa versão terá cortes inacreditáveis devido à edição. É muito engraçado e instrutivo pra quem se interessa por filmes B.

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