sexta-feira, 31 de maio de 2019

PAPIRO VIRTUAL 134


Roberto Rillo Bíscaro

Os livros de Sara Blaedel não foram traduzidos pro português, segundo pesquisa rápida num site de livraria (outrora) grande daqui. Ao ler The Midnight Wwitness (2018), na tradução pro inglês, do ano passado, de Mark Kline, não acho que os brasileiros estejam perdendo muito. Nem deu pra entender muito bem porque ela é tão popular e vende tanto, mas daí, não compreendo como isso pode ocorrer em diversas áreas e em 90% dos casos.

História de detetive pressupõe mistério, pelo menos, e isso o livro não traz. O Kindle marca porcentagem de material lido e fiz questão de ver quanto estava, quando um policial diz que ainda não tinham nada sobre o caso: 47%. E ainda não acontecera nada no livro.

Uma jovem é assassinada num parque numa chuvosa noite em Copenhague. Louise Rick começa a investigar o caso, que logo é ofuscado pelo brutal assassinato dum jornalista, que trabalhava no mesmo jornal da melhor amiga de Louise, Camila Lind. Louise reclama que a própria polícia estava priorizando o caso do periodista morto, porque rendia mais pautas na imprensa, em detrimento da pobre menina loira, mas sem altas conexões. Alfinetada pertinente no status quo, mas que prova ser hipócrita, porque o próprio livro joga o caso de Karoline pra escanteio, ao matar outro jornalista, transferindo o foco da narrativa totalmente pro caso que a suposta protagonista criticava ter tomado procedência. E, na conclusão mais improvisada que planejada a fundo, a brutalização de Karoline é resolvida num acaso telegrafado ao leitor, de tão passageiro.

É certo que a era dos investigadores solitários e geniais à Poirot não cola muito mais. A literatura policial de hoje prioriza o trabalho do grupo policial, embora haja uma personagem mais central. Nesse caso, tratar-se-ia de Louise Rick, porque ela é quem subnomeia a série. Mas, ela não faz nada; cheguei a pensar que a protagonista fosse Camila Lind, na verdade.

A despeito de ter uma policial interessante como “protagonista”, porque é emotiva, The Midnight Witness é moroso e gasta tempo enorme com coisas que não interessam à trama ou com a rotina da chefatura da polícia. Casos sem pistas podem refletir a realidade, mas não proporcionam ação dramática. Essa, nas raras ocorrências, acontece “fora de cena”, é narrada por alguma personagem.  Isso podia funcionar com tragédia grega, mas leitor de livro policial quer suspense.

Será que esse tipo de livro é pensado pro “público feminino”, uma vez que duas mulheres dominam a narrativa?

Sei lá, de qualquer modo é insípido e maracutaiado, recomendo, não.

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