quinta-feira, 2 de maio de 2019

TELONA QUENTE 286



Roberto Rilo Bíscaro

Em 4 de outubro, de 1957, a União Soviética aterrorizou os cidadãos de bem do mundo ocidental, ao colocar o primeiro objeto humano circulando a Terra. O Sputnik botava a comunista Moscou à frente da corrida espacial. Internamente, o sentimento era de orgulho patriótico, não distinto dos capitalistas EUA. No meio cultural, os soviéticos também produziram filmes de ficção-científica espaciais, com pontadas ao inimigo externo.
Em 1959, saiu Nebo Zovyot, que, de forma lenta e sem recursos, conta sobre fracassadas missões à Marte, por culpa dos cúpidos norte-americanos. Os industriosos russos salvam o dia, porém. Apesar de termos que confiar nas legendas não muito detalhistas da versão no Youtube, percebe-se que a disputa pela dianteira na corrida espacial, faz russos e norte-americanos tratarem viagens espaciais, como se fossem idas a um concerto: ah, se você vai, vou também! Não precisa cálculo; pessoal qualquer entra nas naves e estação espacial. Tudo bem que parte do filme seja um sonho do jornalista.
De qualquer modo, fãs de sci fi que leem inglês não deveriam perder essa pérola.   

Enquanto a cidadania de bem temia e execrava os Vermelhos, espertalhões como Roger Corman não tinham pruridos em comprar filmes soviéticos e reempacotá-los pra consumo em drive-ins ao redor do país. Foi fazendo isso com Nebo Zovygot, que o venerado Francis Ford Coppola começou sua carreira. Ele transformou o filme russo em Battle Beyond The Sun.
Conseguir americanizar a película é uma das picaretagens mais geniais de Corman e Coppola. Bastou dublar os atores, com falas inventadas por Francis Ford. Os atores listados no início, simplesmente inexistem, porque tudo o que o espectador vê é o elenco russo em cenas picotadas, reeditadas e retrabalhadas pra obliterar qualquer símbolo soviético ou letra cirílica. Também foram eximidos os beijões na boca entre os camaradas soviéticos.
No começo, narrador explica que após a guerra nuclear, o mundo estava dividido em duas superpotências: o Hemisfério Norte e o Sul. Elas disputavam a corrida espacial. Ou seja, a espécie humana é tão estúpida, que nem uma aniquilação atômica fez com que aprendesse que lutas territoriais infantis não prestam pra nada. Em termos narrativos, com esse prólogo e a dublagem, a maracutaia estava perfeitamente assegurada. Era a disputa EUA x URSS pra ver quem mijava mais longe, mas de outro jeito.
Pra assegurar um pouco mais de suspense e “ação”, Coppola criou um monstro, vivendo no asteroide onde a nave estava encalhada. São cenas enxertadas, que de fato não produzem bônus algum em suspense, porque obviamente a criatura não interage com qualquer personagem.
O ideal é ver as produções imediatamente em sequência pra se divertir imenso com o empreendedorismo do grande Roger Corman e seu assecla faminto por oportunidade, Francis Ford Coppola.
Felizmente, o Youtube também disponibiliza Battle Beyond The Sun.

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