sexta-feira, 10 de maio de 2019

PAPIRO VIRTUAL 132

Roberto Rillo Bíscaro

Pro bem e/ou pro mal, a Bossa Nova é percebida como amálgama de jazz e samba. Há quem diga que indica modernização, há quem acuse aculturação. Há quem diga que não deu oportunidade a músicos negros; há quem incense como uma das contribuições mais valiosas do Brasil à cultura mundial.
Independentemente de como a encaremos, antes, durante e depois da eclosão da Bossa Nova houve imbricamentos entre o samba e o jazz, gerando termos como sambajazz, jazzsamba, sambop e outros. A dissertação de mestrado A INVENÇÃO DO SAMBAJAZZ: DISCURSOS SOBRE A CENA MUSICAL DE COPACABANA NO FINAL DOS ANOS DE 1950 E INÍCIO DOS ANOS 1960, defendida por Joana Martins Saraiva, na PUC-RIO, em 2007, tem a importância de servir como pequeno guia pra sons que correm o risco de serem esquecidos, devido à gigantesca sombra projetada pela vencedora Bossa de Tom e João.
A autora reconstrói o rico emaranhado de boates que Copacabana abrigava no decênio abrangido por seu estudo. Essas casas noturnas possuíam shows, onde o jazz foi progressivamente misturado à nossa música tradicional, o samba. Joana resgata matérias de jornais, esgoelando contra tal invasão cultural, que mataria nossa cultura e outros louvando a modernidade que representava tal miscigenação.
A autora não deixa escapar que a “tradição” alegada pelos defensores do samba “puro”, era ela mesma ainda meio novidade, porque o Samba do Estácio, linha predominante nos 50’s, também fora considerada estrangeirista nos 30’s. Ou seja, o trabalho fala da perene luta entre “puristas” e “modernizadores”, que, no caso brasileiro, sempre vencem e explicam sua preponderância com discursos antropofágicos.
Desta forma, é muito interessante aprender que o Carinhoso, de Pixinguinha, foi acusado de corrompido, quando hoje ninguém se atreveria. Mas, a mesma pessoa pode reproduzir o discurso, em outros quadrantes, como uso de eletrônica, “contaminação” do funk e outros equivalentes de hoje, desse embate tão velho. Por isso, o texto é tão instrutivo.
Salutar ler a dissertação com papel e caneta ao lado, ou com fácil acesso a serviços de streaming e Youtube, porque a autora cita muita coisa, que corre perigo de ser esquecida, porque o sincretismo entre jazz e samba não se processou nos moldes bossanovistas. Não significa que ouvirei tudo sempre, mas interessados em MPB devem acessar esse repertório pra entender desenvolvimentos.  
A INVENÇÃO DO SAMBAJAZZ: DISCURSOS SOBRE A CENA MUSICAL DE COPACABANA NO FINAL DOS ANOS DE 1950 E INÍCIO DOS ANOS 1960 pode ser acessada legal e gratuitamente, no link:

Nenhum comentário:

Postar um comentário